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Presidente da Colômbia disputará reeleição com foco no processo de paz

Santos, de 62 anos, na Presidência desde 2010, concentrou a ação de governo no processo de paz com a guerrilha comunista das Farc, iniciado há um ano em Cuba

Agência France-Presse
postado em 21/11/2013 19:08
O presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, foi ministro da Defesa entre 2006 e 2009Ao anunciar que disputará a reeleição para o período 2014-2018, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, vinculou seu destino aos avanços no processo de paz com a guerrilha das Farc, o que analistas consideram ser uma aposta arriscada, mas inevitável.

"Meu dever como chefe de Estado, minha obrigação como colombiano, é não permitir que se perca tudo o que conquistamos nos esforços de paz", disse o presidente de centro-direita ao anunciar ao país, na noite de quarta-feira, sua decisão de disputar um segundo mandato.

Santos, de 62 anos, na Presidência desde 2010, concentrou a ação de governo no processo de paz com a guerrilha comunista das Farc, iniciado há um ano em Cuba.

"Santos vinculou suas aspirações eleitorais à paz. Este é o coração de seu discurso. É arriscado porque a paz é uma agenda que não depende só dele. Mas acho que está muito convencido de que vai levar o processo adiante", disse à AFP o cientista político León Valencia, especialista no conflito armado colombiano e membro do centro de estudos Paz e Reconciliação.

[SAIBAMAIS]"Mas esta era a aposta que tinha que fazer porque tampouco tem muitos outros temas para apresentar ao eleitorado", acrescentou.

De fato, os analistas coincidem em que a intenção de firmar um acordo para por um fim ao conflito armado da Colômbia, que se prolonga há quase 50 anos, é a marca do governo de Santos.

"É a bandeira do seu governo. Nos outros campos, sobretudo na economia, há muita continuidade" com a gestão de seu antecessor Álvaro Uribe (2002-2010), avaliou a analista Laura Gil.

O processo de paz fez com que Uribe, de quem Santos foi ministro da Defesa entre 2006 e 2009, se tornasse seu mais ferrenho opositor, acusando-o de traição depois de ter incentivado sua candidatura.

"A eleição vai virar um referendo pela guerra ou pela paz. No fundo é o cenário mais honesto para delinear a reeleição", disse Gil à AFP.

Uma aposta arriscada

A aposta é arriscada. "Santos esperava ter mais acordos fechados nesta data. Mas teve que aceitar que o processo de paz é mais complicado do que se pensou a princípio. Ao decidir disputar a reeleição, deu mais poder às Farc nas negociações", declarou à AFP Federico Barriga, analista da consultoria Economist Intelligence Unit para a Colômbia.

A seis meses das eleições, que serão disputadas em dois turnos, em maio e junho de 2014, não apareceu um nome que possa disputar a Presidência com Santos, que deve receber o apoio dos partidos de centro-direita que formam sua atual coalizão de governo.

Até agora, só o ex-senador e ex-ministro da Economia, Oscar Ivan Zuluaga, decidiu se candidatar com o apoio de Uribe. Espera-se que a esquerda e o minoritário Partido Verde também lancem candidato.

Principal adversário de Santos, Zuluaga é crítico à estratégia de paz impulsionada pelo presidente com a guerrilha.

"A reeleição é um prêmio que Santos não merece", afirmou à AFP Zuluaga, candidato do movimento Centro Democrático, do ex-presidente Uribe.

"Fez campanha com uma ideia e governou com outras", declarou, reiterando o repúdio dos simpatizantes do ex-presidente ao seu ex-ministro da Defesa.

"Não queremos uma paz a qualquer preço", reforçou o candidato, que afirma que o atual processo de paz com as Farc oferece "impunidade" aos rebeldes. "Santos tem muito pouco apoio popular, em nenhum momento o elegemos para que tivesse esta postura", insistiu.

Apesar dos ataques do adversário, Barriga acredita que o presidente será reeleito devido à fragilidade dos concorrentes.

"Santos será reeleito e uma das razões é que não existe um concorrente que possa vencê-lo. No geral, na América Latina, a menos que haja uma crise institucional ou econômica muito grave, é difícil que um presidente não se reeleja", afirmou.

No entanto, os analistas chamam atenção para as legislativas de março, nas quais o movimento Centro Democrático de Uribe pode ter uma boa votação.

Uribe não pode mais disputar mandatos, depois de ter se reelegido em 2006, mas muito provavelmente será cabeça de chapa para o Congresso.

"Para Santos, será chave assegurar a maioria no Parlamento. Se Uribe conseguir uma bancada importante, pode barrar o processo de paz", disse Gil, em alusão às leis que precisariam ser aprovadas em caso de um acordo final com as Farc.

"Se a credibilidade do processo de paz erodir, Uribe pode conseguir muitos parlamentares", advertiu.

Em um ano, o diálogo de paz com as Farc conseguiu consenso nos temas de desenvolvimento agrícola e participação política da guerrilha, considerados os mais difíceis. Mas restam pendentes os pontos das drogas, a indenização às vítimas e o abandono de armas. Além disso, será preciso definir um mecanismo para referendar os acordos.

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