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Egito: trabalhos na Constituinte são suspensos após prisão de manifestantes

Os manifestantes foram presos porque não obtiveram a autorização, concedida pelo ministério do Interior, de se reunir diante do Senado

Agência France-Presse
postado em 26/11/2013 16:44
Cairo - Dez membros do comitê responsável pela revisão da Constituição egípcia suspenderam nesta terça-feira (26/11) os trabalhos na assembleia após a prisão de 30 manifestantes no Cairo. Hoda al-Sadda, que tem uma cadeira no "Comitê dos 50", explicou ter suspendido suas atividades, junto a nove de seus colegas, após a prisão de 30 manifestantes que denunciavam a manutenção de um artigo autorizando os processos de civis diante de tribunais militares na nova Constituição.

Os policiais usaram de jatos de água para dispersar os manifestantes
"O Comitê dos 50 corre o risco de se desfazer, sendo que é a pedra fundamental da transição", afirmou um outro membro, o diretor de cinema Khaled Youssef, enquanto os 50 se comprometeram a enviar, em 3 de dezembro, uma versão final do texto revisado ao presidente interino Adly Mansour. Os manifestantes foram presos porque não obtiveram a autorização, concedida pelo ministério do Interior, de se reunir diante do Conselho da Choura (Senado), onde funciona o Comitê dos 50, segundo revelaram fontes da área de segurança à AFP.

Este foi o primeiro incidente registrado na capital desde a promulgação no domingo de uma lei que restringe o direito de manifestação. Os policiais usaram de jatos de água para dispersar os manifestantes, que queriam pedir o julgamento dos responsáveis pela morte de manifestantes em violentos choques entre as forças de ordem e opositores no final de 2011.

O presidente interino do Egito, Adly Mansur, promulgou no domingo uma controversa lei sobre o direito de protestar, denunciada por ONGs de defesa dos direitos humanos como mais uma tentativa de reprimir manifestações após a destituição do presidente islamita Mohamed Morsy. O texto prevê penas de um a cinco anos em regime fechado para crimes que vão do porte de capuzes ao de armas durante manifestações ou reuniões, detalhou o porta-voz.



[SAIBAMAIS]A lei também obrigada as organizações a informar as autoridades sobre suas manifestações até três dias antes. Devem fornecer coordenadas, localização e trajeto, assim como as reivindicações e as palavras de ordem que serão usadas. O Ministério do Interior poderá decidir pela proibição do ato, se considerar que representa "uma ameaça para a segurança", acrescentou Badawi. Segundo a lei, também ficam proibidos a realização de reuniões nos locais de culto e o início de manifestações na saída desses estabelecimentos. Tradicionalmente, no Egito, as passeatas islâmicas partem das mesquitas.

Recentemente, várias ONGs e a ONU pediram que as novas autoridades egípcias abandonassem a lei, acusando o governo de querer reverter as conquistas da revolução popular de 2011, a qual obrigou Hosni Mubarak a abandonar o poder após três décadas de domínio absoluto. Desde 14 de agosto, o novo governo lançou a polícia e o Exército em uma onda de repressão extremamente sangrenta contra manifestantes que pedem o retorno ao poder de Morsy, primeiro presidente democraticamente eleito no Egito.

Mais de mil manifestantes pró-Morsy foram mortos, e mais de 2 mil membros da Irmandade Muçulmana, à qual pertence o presidente destituído, acabaram presos. O projeto de Constituição revisada prevê manter um artigo que permite aos tribunais militares julgar civis acusados de "atrapalharem" as forças armadas - uma definição interpretada de forma ampla no Egito. Três jornalistas foram recentemente condenados por tribunais militares em virtude deste artigo. A questão dos processos militares de civis é um ponto de discordância entre os membros do Comitê dos 50.

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