Agência France-Presse
postado em 28/11/2013 11:46
Cidade do Vaticano - O papa Francisco lamentou nesta quinta-feira (28/11) um certo "pensamento único" laico que rejeita a diversidade religiosa, e fez um apelo ao direito dos crentes a se expressarem em espaços públicos "respeitando as convicções dos outros". Em um discurso aos participantes de uma reunião plenária do Conselho Pontifício para o diálogo entre religiões, o papa expressou dois "não": não a "uma fraternidade cínica" no diálogo inter-religioso, onde cada líder religioso, para assegurar um entendimento factível, "finge renunciar aquilo que lhe é mais caro".
[SAIBAMAIS]Não a um entendimento de fachada com as sociedades laicas, acrescentou, em nome do respeito do dogma de um "pensamento único teoricamente neutro". "Assistimos na História tragédias dos pensamentos únicos", lembrou, fugindo de seu discurso preparado. O Papa criticou "o medo de vemos crescer nas sociedades mais secularizadas: o medo da dimensão religiosa como tal". "A religião é vista como inútil e até mesmo perigosa. Às vezes argumenta-se que os cristãos devem abandonar as suas convicções religiosas e morais no exercício de sua profissão. A ideia generalizada é que apenas escondendo sua filiação religiosa podemos assegurar a coexistência, nos reunindo em uma espécie de espaço neutro, sem qualquer referência à transcendência", considerou.
Desta forma, Francisco parece, indiretamente, defender o direito à objeção de consciência, principalmente entre médicos, prefeitos ou professores, quando confrontados a realidades que a Igreja desaprova (aborto, eutanásia, casamento gay). "Como seria possível a criação de relacionamentos reais, a construção de uma sociedade que seja uma verdadeira comunidade, impondo que cada um deixe de lado o que considera ser uma parte íntima do seu ser?", questionou. "O futuro está na diversidade, não na homogeneização de um pensamento único, teoricamente neutro", insistiu Francisco, chamando os católicos a "ter a coragem" e se apresentar "da forma como são", sempre "em respeito à crença dos outros".
O Papa utilizou o mesmo argumento para o difícil diálogo com as outras religiões como o Islã, retomando as concepções de Bento XVI sobre um diálogo baseado na verdade: "dialogar não significa abrir mão da identidade (...) e muito menos ceder a um compromisso sobre a fé e a moral cristã". "O diálogo inter-religioso e a evangelização não são mutuamente exclusivas, mas alimentam-se mutuamente", argumentou, enquanto outros líderes religiosos sentem a evangelização como uma agressão.