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União Europeia não consegue convencer Ucrânia e acordo não é assinado

O acordo previa a aproximação da Ucrânia com com o Ocidente, ante a pressão de Moscou

Agência France-Presse
postado em 29/11/2013 10:29
Vilnius - A União Europeia não conseguiu convencer a Ucrânia a assinar nesta sexta-feira (29/11) um acordo histórico selando sua aproximação com o Ocidente, ante a pressão de Moscou, o que constitui uma verdadeira derrota para os europeus.


No final da terceira cúpula da Parceria Oriental entre a UE e seis ex-repúblicas soviéticas - Ucrânia, Geórgia, Moldávia, Belarus, Armênia e Azerbaijão -, os resultados ficaram aquém do esperado. A UE firmou dois acordos de associação com a Geórgia e a Moldávia, cuja assinatura definitiva só deve ocorrer nos próximos meses, e assinou um acordo de facilitação de vistos com o Azerbaijão.


Mas nada com a Ucrânia, centro das atenções e objeto de tensas negociações há meses.

Ainda assim, o presidente da Ucrânia, Viktor Yanukovych, confirmou a intenção de seu país "de assinar um acordo de associação em um futuro próximo". "O status quo não mudou. O presidente ucraniano não está disposto a avançar para uma maior integração com a União Europeia", declarou a presidente da Lituânia, Dalia Grybauskaite, que sediou a cúpula em Vilnius.


Ela acusou os líderes ucranianos de escolher "um caminho que não leva a nada". Para ela, "é um fracasso da Ucrânia", cujo inflexível presidente Viktor Yanukovych chegou a viajar à capital da Lituânia. Os líderes europeus asseguraram que a porta da UE e de seu vasto mercado de 500 milhões de habitantes continuará "aberta".


"Está aberta, porque é importante para eles e para nós", frisou a representante da UE para as Relações Exteriores, Catherine Ashton, na esperança de que os dois lados "avancem o mais rápido possível" nesse sentido. "A porta estará sempre aberta para os ucranianos, contanto que eles desejem isso", declarou o presidente francês, François Hollande. "Cabe aos ucranianos querer essa perspectiva de associação", insistiu.


A chanceler alemã, Angela Merkel, ressaltou que os "processos históricos podem levar um longo tempo". Ela considerou ser necessário "conversar mais com a Rússia sobre o que pode ser feito para superar" a questão da escolha entre a Rússia e a UE.


"Coragem e vontade política"


Muitos líderes políticos acreditam que a negação de Kiev pode azedar a relação entre as duas partes por meses, ou até anos. Essa estratégia de aproximação foi lançada em 2009 para estabilizar e proteger a Europa das ex-repúblicas soviéticas. A tática é dificultada pela recusa da Rússia de Vladimir Putin, que multiplica as pressões e ameaças contra os países da ex-URSS, e que já atraiu Armênia em seu projeto de união aduaneira.


Em um breve comunicado, o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, também elogiou a "determinação, coragem e vontade política" dos líderes da Geórgia e da Moldávia, garantindo que a UE "respeitará" a soberania desses países. Aos europeus, Yanukovych expôs ontem à noite os graves problemas econômicos de seu país, em parte devido às medidas de retaliação tomadas nos últimos meses por Moscou.


Ele reiterou seu pedido para que esses problemas sejam resolvidos "em conjunto pela UE e Rússia", de acordo com Grybauskaite. Mas sua tentativa não deverá ter sucesso, já que sua proposta de diálogo tripartite Kiev-Bruxelas-Moscou foi rejeitada na semana passada pela União Europeia.


Ele também não ouviu os argumentos dos europeus, incluindo dos recém-chegados do Leste, sobre os benefícios que Kiev poderia ter com uma aproximação com a UE, especialmente para o desenvolvimento econômico e comercial. O acordo de associação tem sido negociado há cinco anos entre Kiev e Bruxelas, que já comprometeu milhões de euros em favor da modernização política e econômica do país de 46 milhões de habitantes.


Mas a UE, dividida sobre esta questão, nunca ofereceu uma perspectiva clara de integração para as ex-repúblicas soviéticas, como fez com os países do Leste após a queda do Muro de Berlim. Segundo uma fonte diplomática, algumas capitais também não estão preocupadas com a recusa da Ucrânia. A assinatura de um acordo com a UE "representa um claro avanço em nossas relações, que levará o meu país à União Europeia", considerou o primeiro-ministro moldavo, Iurie Leanca.


Ucranianos descontentes


Os líderes da oposição ucraniana pró-europeia exigiram a renúncia do presidente Viktor Yanukovitch, depois de sua recusa a firmar o acordo. "Nós exigimos a saída de Yanukovitch", declararam os principais líderes da oposição, em uma resolução lida nesta sexta-feira à noite (horário local), diante de cerca de dez mil manifestantes na Praça da Independência, em Kiev, de acordo com estimativa da AFP.


Já a polícia ucraniana estimou em pelo menos cinco mil o número de pessoas no protesto.

Reunidos na emblemática praça da chamada "Revolução Laranja" de 2004, os manifestantes gritavam "vergonha", ou "Revolução". Centenas de policiais do Batalhão de Choque foram enviados para a praça, no centro de Kiev, depois que alguns confrontos foram registrados à tarde.


"Exigimos do Parlamento o estudo de um procedimento de expulsão do presidente e eleições antes de 2015", declarou Arseni Yatseniuk, aliado da opositora e ex-primeira-ministra detida Yulia Timoshenko. "Esse presidente vendeu o destino e o futuro da Ucrânia e traiu o povo ucraniano", acrescentou Yatseniuk.


"A Ucrânia ingressará na Europa sem Yanukovych", declarou Vitali Klitschko, campeão mundial de boxe e líder do partido de oposição Udar, candidato declarado à presidência. "A sabotagem da assinatura do acordo é alta traição! Vamos fazer todo o possível para que esse poder vá embora. Precisamos nos unir para isso", completou Klitschko.


"Roubaram nossa esperança, a esperança de viver em um país europeu e moderno, de vencer as corrupção, de ter tribunais justos", acrescentou o candidato. Os líderes da oposição tinham acabado de chegar de Vilnius. Nesta sexta, eles foram à capital lituana para expor seu ponto de vista, em paralelo à cúpula da Parceria Oriental da UE.


Horas antes, milhares de manifestantes da oposição formaram uma corrente humana simbólica para unir a Ucrânia à Europa. Aproximadamente 20 mil pessoas, segundo os organizadores, participaram em uma ação em Lviv, a principal cidade da Ucrânia ocidental, tradicionalmente orientada para a Europa.

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