Cairo - As forças da ordem egípcias dispersaram manifestantes islâmicos nesta sexta-feira (29/11), argumentando que não apresentaram o pedido de permissão para realizar o protesto como determina a nova lei promulgada no domingo.
Desde 14 de agosto, o novo governo lançou a polícia e o Exército em uma onda de repressão extremamente sangrenta contra manifestantes que pedem o retorno ao poder de Mohamed Mursi, primeiro presidente democraticamente eleito no Egito e destituído pelos militares.
Determinado a aplicar a nova lei que restringe o direito de manifestação, o Ministério do Interior advertiu quinta-feira à noite "contra a organização de qualquer mobilização (...) contrária à lei", afirmando que irá agir "contra essas atividades ilegais com firmeza".
[SAIBAMAIS]Ignorando o aviso, os islâmicos, liderados pela Irmandade Muçulmana, à qual pertence Mursi, convocaram manifestações nesta sexta em todo o país, após a morte de um estudante durante a dispersão pela polícia de um protesto na Universidade do Cairo.
Na capital, policiais e soldados tentavam dispersar centenas de manifestantes reunidos em frente ao palácio presidencial. Um jornalista da AFP no local ouviu tiros e relatou o uso de bombas de gás lacrimogêneo, enquanto os islamitas respondiam com pedras.
A polícia também fez uso de bombas de gás lacrimogêneo para dispersar manifestações em Alexandria, a segunda maior cidade do país no norte, em Suez, Qena e el-Mahalla, segundo os serviços de segurança. Uma autoridade de Saúde informou que oito pessoas ficaram feridas, e o Ministério do Interior registrou 183 detenções.
Hoje foi um dia de teste por se tratar da primeira sexta-feira desde a promulgação da polêmica lei sobre o direito de manifestação que provocou protestos entre os defensores dos direitos Humanos. Após a destituição de Mursi, no início de julho, mais de mil pessoas, em sua maioria partidários do presidente deposto, foram mortas em manifestações e confrontos com a polícia.
Agora, as forças de segurança têm atacado também movimentos laicos e da juventude, que lideraram a revolta popular que derrubou Hosni Mubarak no início de 2011. Na terça-feira, a polícia dispersou dezenas de pessoas reunidas no centro do Cairo, no primeiro incidente na capital egípcia desde a promulgação da lei. Na quarta e na quinta, o procurador-geral ordenou a prisão de Ahmed Maher, fundador do movimento de 6 de abril - vanguarda da revolta de 2011 - e a de outro opositor, Alaa Abdel Fatah.
A mulher de Fatah denunciou em seu Twitter que foi agredida pela polícia durante a prisão do marido. Nesta sexta, ele foi interrogado pela primeira vez, segundo fontes judiciais, que acrescentaram que ele foi acusado de ter organizado uma "manifestação ilegal", "causado tumulto", "agredido um policial e roubado seu transmissor rádio".
Já o ativista Ahmed Maher é acusado de organizar uma manifestação sem informar as autoridades três dias antes. Ele ainda não foi detido. Maher escreveu em seu Twitter que "nosso sonho (durante a revolta de 2011) era viver com dignidade, mas os militares, (os restos do) regime corrupto de Mubarak e seus aliados (...) combatem esse sonho com prisões e repressão".
Sobre a dispersão das manifestações na terça-feira, a Federação Internacional para os Direitos Humanos (FIDH) afirmou ter documentado vários casos de prisão, detenção e agressão contra manifestantes. Além disso, a FIDH relatou "assédio sexual de mulheres e homens" durante os protestos.
Mursi foi destituído em 3 de julho pelos militares, que evocaram os milhões de manifestantes que saíram às ruas para denunciar a tentativa de Mursi de concentrar o poder em favor de sua confraria e de querer islamizar o Egito. Desde então, as novas autoridades afirmam lutar "contra o terrorismo".
A lei promulgada no domingo prevê penas de um a cinco anos em regime fechado para crimes que vão do porte de capuzes ao de armas durante manifestações ou reuniões, e também obriga as organizações a informar as autoridades sobre o trajeto de suas manifestações, assim como as reivindicações e as palavras de ordem que serão usadas.