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Oposição ucraniana pede eleições antecipadas após violenta repressão

"Nossas reivindicações são a demissão de Zakhartchenko, uma investigação e diligências contra ele a demissão do governo e do presidente, e eleições presidenciais e legislativas antecipadas", declarou um dos líderes do Partido Batkivschina

Agência France-Presse
postado em 30/11/2013 18:27
Kiev - A oposição ucraniana pró-europeia exigiu neste sábado a realização de eleições presidenciais e legislativas antecipadas e a demissão do presidente Viktor Yanukovich; e anunciou que se reunirá com os embaixadores da União Europeia, depois da dispersão violenta dos manifestantes em Kiev.

"Nossas reivindicações são a demissão de Zakhartchenko [ministro do Interior], uma investigação e diligências contra ele a demissão do governo e do presidente, e eleições presidenciais e legislativas antecipadas", declarou à imprensa Arseni Yatseniuk, um dos líderes do Partido Batkivschina.

O próprio Ianoukovitch condenou o uso da força contra manifestantes da oposição, afirmando estar "profundamente indignado com os acontecimentos durante a noite na Praça da Independência" de Kiev.

"Condeno as ações que provocaram o confronto e o sofrimento do povo", destacou um comunicado do presidente, que promete punir os responsáveis pela repressão.

[SAIBAMAIS]A União Europeia condenou "firmemente" a violência policial contra os manifestantes pró-europeus e pediu ao país que "respeite a liberdade de expressão e reunião".

"A União Europeia condena firmemente o uso excessivo da força na noite passada pela polícia de Kiev para dispersar manifestantes pacíficos", destaca um comunicado firmado pela chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, e o comissário da Ampliação da UE, Stefan Fule.

"O uso injustificado da força vai contra os princípios aos quais todos os participantes da Cúpula de Vilna reafirmaram sua adesão, incluindo o presidente ucraniano". Os Estados Unidos criticaram a violenta repressão e conclamaram os líderes da Ucrânia a respeitar os direitos de expressão e reunião do povo.

Estes direitos "são fundamentais para uma saudável democracia e para o respeito aos valores universais que orientam a colaboração entre Estados Unidos e Ucrânia", destacou a porta-voz do departamento de Estado Jen Psaki.

"A violência e a intimidação não deveriam ter lugar na Ucrânia da atualidade", disse Psaki, acrescentando que Washington "apoia as aspirações do povo ucraniano visando uma próspera democracia europeia e que a integração europeia é o caminho mais seguro para o crescimento econômico e o reforço da democracia".

A opositora detida Yulia Timoshenko pediu à população que "derrube" o regime do presidente Viktor Yanukovich nas ruas, em carta lida por sua filha Evguenia em entrevista coletiva.

"Me dirijo a todos os ucranianos para pedir que se levantem contra a ditadura do regime de Yanukovich. Não abandonem as ruas até que o regime tenha caído por meios pacíficos", disse Timoshenko, que cumpre pena de 7 anos de prisão.

Dezenas de pessoas ficaram feridas neste sábado em Kiev quando a polícia dispersou com violência os manifestantes que pediam a renúncia do presidente ucraniano por não ter assinado um acordo de associação com a União Europeia.

Segundo o deputado Andriy Shevchenko, a repressão da manifestação na Praça da Independência, no centro da capital, começou de madrugada, depois de uma concentração de milhares de pessoas na noite de sexta-feira para protestar contra Yanukovich. "A Ucrânia nunca viu nada assim antes", afirmou em seu Twitter.

O embaixador dos Estados Unidos na Ucrânia, Geoffrey Pyatt, não tardou em criticar, também no Twitter, o uso da violência contra manifestantes pacíficos.

O site de notícias ligado à oposição Ukrainskaia Pravda afirmou que no momento dos fatos havia mil pessoas na praça, que foi totalmente controlada pela polícia. O portal publicou fotos e vídeos mostrando manifestantes com o rosto ensanguentado e policiais agredindo as pessoas

"Eles nos cercaram e começaram a espancar todo mundo, homem, mulheres, as pessoas caíam, e eles as agarravam", contou uma jovem em um dos vídeos. "Desmaiei e acordei numa ambulância, com pessoas ensanguentadas".

A União Europeia não conseguiu convencer a Ucrânia a assinar nesta sexta-feira um acordo histórico selando sua aproximação com o Ocidente, ante a pressão de Moscou, o que levou os ucranianos às ruas.

Os líderes da oposição ucraniana pró-europeia exigem a renúncia do presidente Viktor Yanukovich. "Nós exigimos a saída de Yanukovich", declararam os principais líderes da oposição, em uma resolução lida nesta sexta-feira à noite, diante de cerca de dez mil manifestantes na Praça da Independência, em Kiev, de acordo com estimativa da AFP.

Já a polícia ucraniana estimou em pelo menos cinco mil o número de pessoas no protesto. Reunidos na emblemática praça da chamada "Revolução Laranja" de 2004, os manifestantes gritavam "vergonha", ou "Revolução".

Centenas de policiais do Batalhão de Choque foram enviados para a praça, no centro de Kiev, depois que alguns confrontos foram registrados à tarde.

"Exigimos do Parlamento o estudo de um procedimento de expulsão do presidente e eleições antes de 2015", declarou Arseni Yatseniuk, aliado da opositora e ex-primeira-ministra detida Yulia Timoshenko. "Esse presidente vendeu o destino e o futuro da Ucrânia e traiu o povo ucraniano", acrescentou Yatseniuk.

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"A Ucrânia ingressará na Europa sem Yanukovich", declarou Vitali Klitschko, campeão mundial de boxe e líder do partido de oposição Udar, candidato declarado à presidência.

"A sabotagem da assinatura do acordo é alta traição! Vamos fazer todo o possível para que esse poder vá embora. Precisamos nos unir para isso", completou Klitschko.

"Roubaram nossa esperança, a esperança de viver em um país europeu e moderno, de vencer as corrupção, de ter tribunais justos", acrescentou o candidato. Horas antes, milhares de manifestantes da oposição formaram uma corrente humana simbólica para unir a Ucrânia à Europa.

Aproximadamente 20 mil pessoas, segundo os organizadores, participaram em uma ação em Lviv, a principal cidade da Ucrânia ocidental, tradicionalmente orientada para a Europa.

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