Agência France-Presse
postado em 04/12/2013 18:45
Um morto, centenas de feridos e 52 detidos foi o saldo, nesta quarta-feira (4/12), de uma onda de roubos e saques por grupos classificados de "criminosos organizados" pelo governo, na província argentina de Córdoba (centro), em meio a uma greve policial.Cerca de três mil de policiais permaneceram paralisados por mais de 24 horas, devido ao conflito por demandas salariais, até a assinatura, nesta quarta, de um acordo com o governo provincial.
"Não houve uma explosão social. Houve a atuação de grupos de criminosos organizados que aproveitaram a ausência policial", afirmou o governador José Manuel de la Sota, em entrevista coletiva sobre a onda de violência, registrada terça-feira, na cidade de Córdoba, referindo-se à ausência de controle policial.
Um jovem de 20 anos morreu com um tiro no peito, anunciou o diretor do Hospital San Roque, Daniel Mercado, sem mais informações sobre a vítima.
"Chegamos a um acordo (com o governo). Pedimos desculpas a todos os cordobenses", disse um dos policiais à imprensa, no anúncio de suspensão da greve, em uma sede policial no bairro Cerveceros da capital provincial.
Os agentes voltaram a patrulhar as ruas, onde já reinava a calma nesta quarta, à exceção de episódios isolados de saques.
O protesto envolveu, principalmente, agentes de baixa patente, em um longo conflito que teve o acampamento das mulheres desses policiais como seu maior símbolo. O movimento de reivindicações salariais se intensificou depois que, em setembro passado, o chefe do combate às drogas na polícia de Córdoba e outros quatro agentes foram detidos por acusações de ligação com o tráfico de entorpecentes.
"Na polícia provincial, há uma metodologia criminosa. O dinheiro ilegal surgia do narcotráfico, assim como da receptação de veículos, roubos e furtos", disse o jornalista Tomás Méndez, que investiga o narcotráfico em Córdoba.
"Agora, como os comandos superiores estão presos, ou fora da instituição, já não há mais dinheiro disponível", explicou.
O acordo firmado estabelece o salário-base de um agente em cerca de 8.000 pesos (1.300 dólares), 50% a mais do que ganhavam. Continua sendo, porém, a metade do que a categoria reivindicava.
"Como no Velho Oeste"
À noite e de madrugada, grupos de criminosos, muitos deles de moto, percorreram diferentes bairros de Córdoba, assaltando e destruindo supermercados e outros estabelecimentos comerciais. O grupo teria se aproveitado da ausência de policiais nas ruas.
"À noite (de terça), eu percorri o centro e vi como entravam nas lojas, levavam os produtos, artigos de informática, colchões. Iam pelo calçadão com carros e voltavam para continuar roubando", contou por telefone Angel Stival, um morador de 66 anos.
No centro de Córdoba, "havia vários caras que cuidavam das lojas com escopetas, como no Velho Oeste", comentou Raúl Dotti, de 55, dono de uma loja de reposição de peças de automóveis e pneus, no centro da capital provincial.
"Dava a impressão que eram caras organizados. Muitos estavam de moto. Isso é muito estranho, não é fome. Isso foi armado, não foi como em 2001", acrescentou Dotti, referindo-se aos saques aos supermercados durante a grande crise em dezembro daquele ano no país.
De acordo com vítimas ouvidas pela AFP, alguns indivíduos chegaram a invadir casas e exigir dinheiro dos moradores.
"Não foi um saque pela pobreza, não houve um saque de alimentos. Aqui, houve presença criminosa. Tem mais jeito de situação de crime e saques do que de um movimento social pela fome", declarou o bispo auxiliar de Córdoba, Pedro Torres.
Córdoba paralisada
Segunda província mais populosa do país, com 3,5 milhões de habitantes, Córdoba suspendeu as atividades escolares e o transporte público de forma preventiva. Lojas, bancos e universidades se mantinham fechados, assim como os postos de gasolina. A maioria dos moradores preferiu não sair de casa.
Córdoba é uma província de rica produção agropecuária e industrial, além do forte turismo, por seus vales, bosques e serras atravessadas por rios.
Na semana passada, 50 pessoas foram detidas em duas tentativas de saques em Rosário, 312 km ao norte de Buenos Aires. A polícia da província de Buenos Aires e outras forças de segurança nacionais foram colocadas em estado de alerta pelas autoridades, segundo a imprensa local.