Agência France-Presse
postado em 04/12/2013 21:50
As autoridades mexicanas localizaram nesta quarta-feira o caminhão roubado com carregamento radioativo "extremamente perigoso" destinado a uso médico, informou um membro da procuradoria, sem precisar se a carga permanece no veículo."Localizamos o caminhão, mas falta confirmar se o material que carregava está completo. Estamos a espera de que nos informem do local" onde foi encontrado, no centro do México, disse à AFP o funcionário, que pediu para não ser identificado.
O roubo foi informado pela Comissão Nacional de Segurança Nuclear e Salvaguardas (CNSNS) do México, e envolveu um caminhão Volkswagen Worker branco com grua integrada que transportava equipamento médico em desuso com material radioativo no município de Tepujaco, no estado de Hidalgo.
A CNSNS indicou que a fonte radioativa que se encontra no interior desse equipamento médico está devidamente protegida e não representa risco algum desde que o material não seja quebrado ou manuseado.
O órgão advertiu "aos que tiverem o equipamento em seu poder ou o encontrarem que não abram ou danifiquem, já que, neste caso, ele pode gerar sérios problemas à saúde".
"Esse equipamento contém material radioativo e estava sendo transferido para Centro de Armazenamento de Dejetos Radioativos", afirmou o texto da CNSNS.
Jaime Aguirre Gómez, diretor-geral adjunto de segurança radiológica da CNSNS, disse à AFP que o material radioativo continua 60 gramas do isótopo cobalto 60 com atividade de quase 3.000 Curies, nível que especialistas consultados consideram suficiente para fabricar uma "bomba suja".
O roubo ocorreu em um posto de gasolina em Tepujaco e foi realizado por dois homens armados que renderam o motorista do caminhão, segundo as autoridades do estado de Hidalgo.
"Ao chegar ao posto, dois sujeitos me cercaram, me ameaçaram com armas de fogo, me amarraram e levaram o veículo", disse o motorista, de acordo com a polícia.
A busca pelo caminhão foi realizada em Hidalgo e nos estados próximos de Querétaro, Veracruz, Estado do México, Tlaxcala, Puebla e no Distrito Federal, em operação coordenada entre a Defesa Civil Federal e a Polícia Federal.
A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) indicou em sua sede em Viena que o carregamento radioativo pode ser extremamente perigoso.
De acordo com a AIEA, o caminhão transportava uma fonte radioativa de cobalto-60 utilizada em radioterapia procedente de um hospital da cidade de Tijuana (noroeste) e se dirigia a um centro de armazenamento de despejos radioativos no centro do país.
"No momento em que o caminhão foi roubado, a fonte (radioativa) estava devidamente protegida. No entanto, a fonte pode ser extremamente perigosa para uma pessoa, se a proteção for retirada ou danificada", explicou a agência da ONU em um comunicado.
A AIEA disse que havia sido informada sobre o roubo pela mexicana CNSNS.
O material não pode ser utilizado em uma arma convencional, mas, em teoria, pode ser empregado nas chamadas "bombas sujas", que são artefatos explosivos que propagam material radioativo sobre uma ampla extensão.
Os especialistas alertam há muito tempo para os riscos de armazenar grandes quantidades desse tipo de material em hospitais e outros centros de todo o mundo sem medidas de segurança adequadas.
No ano passado, a AIEA registrou 17 casos de posse ilegal e de tentativa de venda de substâncias nucleares, e 24 casos de roubos ou perdas, o que representa a ponta do iceberg, segundo a agência.
Muitos deles aconteceram em ex-repúblicas soviéticas, como Chechênia, Geórgia ou Moldávia, onde várias pessoas foram detidas em 2011 quando tentavam vender urânio com o qual podiam ser fabricadas armas.
Após a queda da União Soviética, em 1991, e os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, importantes esforços internacionais foram feitos para impedir que material nuclear caia em mãos erradas.
O presidente americano, Barack Obama, presidiu uma cúpula sobre esta questão em 2010, à qual se seguiu outra em Seul no ano passado, e em 2014 está prevista uma terceira em Haia.
Segundo um relatório publicado em julho pela Arms Cntrol Association (Associação de Controle de Armas) e pela Partnership for Global Security (Associação para a Segurança Global), houve progressos na redução desta ameaça, mas ainda é preciso realizar um trabalho significativo.