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NSA monitora posição de celulares em todo o mundo, denuncia jornal

A informação é adicionada a uma base de dados gigantesca que mostra as localizações de "pelo menos centenas de milhões de telefones celulares" em todo o mundo

Agência France-Presse
postado em 05/12/2013 13:29
Washington - A Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos reúne por dia cinco bilhões de dados sobre a localização de telefones celulares em todo o planeta, revelou na quarta-feira (4/12) o jornal The Washington Post, citando documentos vazados pelo ex-analista de inteligência Edward Snowden. A informação é adicionada a uma base de dados gigantesca que mostra as localizações de "pelo menos centenas de milhões de telefones celulares" em todo o mundo, uma revelação impressionante e que sugere que a agência de espionagem criou uma ferramenta de vigilância em massa, de acordo com as informações divulgadas pelo Post.

A reportagem foi publicada seis meses após os primeiros vazamentos bombásticos de Snowden, um ex-consultor da NSA que declarou ter divulgado estas informações para provocar um debate público sobre as atividades de vigilância generalizada da agência. Snowden enfrenta acusações de espionagem, mas fugiu para a Rússia, onde recebeu asilo.

Dos programas de vigilância da NSA revelados até o momento, incluindo a espionagem de líderes estrangeiros e o recolhimento de metadados de internet, o projeto de geolocalização parece ser o maior da agência, tanto em escala quanto em escopo. A NSA não quis comentar a reportagem ao ser contactada pela AFP.

[SAIBAMAIS]Estes dados de localização são recolhidos através de cabos que conectam as redes de telefones celulares - tanto americanas quanto estrangeiras - em todo o mundo, explicou o Post. Eles são coletados com o auxílio de dez "sigads", ou sinais de inteligência designadores de atividade.

Em um exemplo fornecido pelo Post, um sigad chamado "STORMBREW" coleta dados de duas empresas não nomeadas e que administram equipamentos de interceptação. Então a "NSA solicita tasking/updates", de acordo com os documentos vazados. Informações de telefones celulares de americanos que viajam ao exterior também integram o banco de dados.

Devido ao fato de os telefones celulares transmitirem suas posições mesmo quando nenhuma ligação foi feita ou mensagem enviada, os analistas da NSA são capazes de utilizar técnicas matemáticas para vasculhar dados de localização e rastrear padrões de movimento ao longo do tempo para um determinado suspeito, informou. Os métodos analíticos utilizados pela agência para peneirar os dados de localização são conhecidos como CO-TRAVELER, de acordo com a reportagem.



Embora a grande maioria dos usuários de telefones celulares não seja de interesse para a agência de espionagem, a NSA recolhe os dados em massa para tentar detectar alvos de inteligência conhecidos e seus associados desconhecidos, segundo o jornal. Mesmo os telefones celulares descartáveis, que os usuários ligam e desligam, fazendo apenas chamadas breves na esperança de evitar as autoridades, são registrados no sistema.

A NSA insiste que não monitora intencionalmente os dados de localização dos americanos, mas acaba recebendo detalhes que mostram o paradeiro de dispositivos móveis domésticos "incidentalmente", escreveu o Post, que também citou funcionários da inteligência. Autoridades americanas declararam ao Post que os programas que coletam dados de geolocalização são legais e destinam-se apenas a reunir informações sobre militantes estrangeiros ou outros "alvos" considerados uma ameaça para os Estados Unidos.

O volume de informação recolhida é tão grande que "supera a capacidade (da NSA) de digerir, tratar e armazenar" os dados, destaca o Post, que cita um documento interno da agência de 2012. "As capacidades da NSA de rastrear a localização são surpreendentes, com base nos documentos de Snowden, e indicam que a agência dirige a maior parte de seus esforços para monitorar comunicações de forma fútil", aponta a reportagem do Post assinada por Barton Gellman e Ashkan Soltani.

O alcance do programa reforçará as preocupações já levantadas por grupos de direitos civis de que a espionagem eletrônica da NSA representa uma séria ameaça para os direitos de privacidade nos Estados Unidos e no exterior. "É impressionante que um programa de rastreamento de localização nesta escala possa ter sido implementado sem qualquer debate público, sobretudo levando-se em conta o número significativo de americanos que têm seus movimentos registrados pelo governo", declarou Catherine Crump, advogada da American Civil Liberties Union. Já Greg Nojeim, diretor do Centro para a Democracia e a Tecnologia, convocou o Congresso "a finalmente agir para conter a vigilância da NSA".

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