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Nelson Mandela, herói da liberdade e do perdão

Agência France-Presse
postado em 05/12/2013 23:02
Johannesburgo - O ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, o ícone da luta contra o apartheid que morreu nesta quinta-feira, aos 95 anos, encarna aos olhos do mundo os valores do perdão e da reconciliação.

"Ele descansa agora. Ele está em paz agora", disse um emocionado presidente Jacob Zuma. "Nossa nação perdeu seu grande filho", acrescentou.

Líder da luta dos negros contra o regime racista da África do Sul, Mandela passou 20 anos na prisão. Libertado em 1990, quatro anos depois tornou-se o primeiro presidente negro democraticamente eleito em seu país.

Chamado de "ícone mundial da reconciliação" pelo arcebispo e companheiro na luta pelos direitos humanos Desmond Tutu, o preso político mais famoso do mundo se transformou em um chefe de Estado sem rancor, vencendo o desafio de liderar sem ódio o seu país no caminho de uma democracia multirracial e relativamente estável.

O "Longo caminho para a liberdade" (título de uma autobiografia lançada em 1994) de Nelson Mandela começou no dia 18 de julho de 1918 na aldeia de Mvezo, em Transkei (sudeste), onde nasceu no clã real de Thembu, da etnia Xhosa.

Cresceu na cidade de Qunu, onde viveu seus "anos mais felizes" de uma infância livre no campo.

Seu professor o chamou de Nelson, mas seu pai o batizou de Rolihlahla ("criador de caso", em xhosa). Muito jovem, Mandela manifestou sua rebeldia que guiou seus passos por décadas.

Na época de estudante, foi expulso da Universidade de Fort Hare por causa de um conflito sobre a eleição de representantes estudantis. No mesmo ano, aos 22 anos, fugiu de sua família para escapar de um casamento arranjado.

Em Johannesburgo, o jovem estudou Direito. Grande amante das mulheres e boxeador nas horas vagas, foi pupilo do ativista Walter Sisulu, seu melhor amigo, e se filiou ao Congresso Nacional Africano (ANC).

Com Oliver Tambo e outros jovens militantes, fundou a Liga da Juventude do ANC e passou a liderar o partido frente a um regime que institucionalizou o apartheid em 1948.

O ANC foi proibido em 1960 e Mandela ficou preso por um ano. Ao deixar a prisão, ele articulou a passagem da organização à luta armada clandestina.

A partir de então, Mandela percorreu o continente africano com seus companheiros.

Em 1962, ele foi detido en Howick (leste da África do Sul) e condenado a cinco anos de prisão por incitação à greve e por ter deixado o país sem autorização.

Em 1963, enquanto cumpria pena, as principais lideranças do ANC, entre outros Sisulu, Govan Mbeki e Ahmed Kathrada, são detidos em seu esconderijo em Rivônia (norte de Johannesburgo). Mandela é acusado de sabotagem junto com eles.

Mandela e seus companheiros escapam da pena de morte, mas são condenados à prisão perpétua e mandados para a ilha-presídio de Robben Island, perto da Cidade do Cabo.

Durante seu julgamento, pronunciou sua defesa na forma de uma profissão de fé: "Eu lutei contra a dominação branca e lutei contra a dominação negra. Meu ideal mais precioso foi o de uma sociedade livre e democrática, onde todas as pessoas vivam em harmonia com igualdade de oportunidades. Espero viver o suficiente para alcançá-lo. Mas se for necessário, é um ideal pelo qual estou preparado para morrer".

Em seus vinte e sete anos de prisão, passou dezoito em Robben Island. Durante os últimos anos de sua detenção, ele estabeleceu contatos secretos com o regime do apartheid, que estava cada vez mais desesperado.

No dia 11 de fevereiro de 1990, "o preso 46664" apareceu novamente como um homem livre ao lado de sua esposa Winnie, que se tornou o símbolo feminino da resistência ao regime.

No ano seguinte, as negociações entre o ANC e o governo, em meio à violência que beirava a guerra civil em 1993, selaram a transição pacífica.

Com o seu antigo adversário e depois parceiro, o último presidente branco do apartheid, Frederik de Klerk, Mandela compartilhou o Prêmio Nobel da Paz (1993).

Triunfalmente eleito na primeira eleição democrática do dia 27 de Abril de 1994, Mandela marca desde o seu discurso de posse a missão que guiaria a sua presidência.

"Nós construiremos uma aliança comprometida com a formação de uma sociedade em que todos os sul-africanos, negros e brancos, possam andar de cabeça erguida, sem medo, tendo garantido o seu direito inalienável à dignidade humana: uma nação arco-íris em paz consigo mesma e com o mundo".

Adorado pelos negros, pouco a pouco ganhou o carinho dos brancos surpreendidos pela sua falta de amargura. Tornou-se para uma nação inteira "Madiba" (seu nome de clã, que virou o seu apelido). A África do Sul o cultua. Em 1998, no dia em que completou 80 anos, casou-se com sua terceira esposa, Graça Machel, viúva do ex-presidente moçambicano, 27 anos mais jovem.

Desde 2001, quando foi diagnosticado e tratado por um câncer de próstata, Mandela se recolheu e passou a se dedicar à sua Fundação para a Infância. Logo ele, que nunca viu os próprios filhos crescerem.

Nos últimos anos, "Madiba" reduziu suas aparições em público. A última vez foi no encerramento da Copa do Mundo de 2010, celebrada em seu país. Em janeiro de 2011, ele foi hospitalizado com um quadro de infecção respiratória, em consequência de uma tuberculose contraída na prisão. Desde então, não conseguiu se recuperar.

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