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Aliança do Pacífico busca se promover na China como um bloco confiável

O "Fórum de Investimento Aliança Pacífico" reuniu representantes dos quatro países do bloco

Pequim - A Aliança do Pacífico se apresentou nesta segunda-feira (9/12) em um fórum em Pequim como um projeto de países politicamente estáveis, altamente atrativos para investidores chineses interessados na América Latina.

O "Fórum de Investimento Aliança Pacífico" reuniu representantes dos quatro países do bloco -Chile, Peru, Colômbia e México - com executivos de cerca de 40 empresas chinesas.

"O atrativo deste fórum é dar confiança à China de que receberá um tratamento igualitário e não discriminatório em termos econômicos, além de uma estabilidade legislativa para o investimento. A única coisa que nossos países pedem em troca é responsabilidade social, respeito por nossas leis ambientais e o cumprimento de suas obrigações em matéria de impostos", disse à AFP Gonzalo Gutiérrez, embaixador do Peru na China.

Nas discussões participaram Toru Shikibu, representante do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e Shi Jiyang, diretor do departamento de cooperação internacional do Banco de Desenvolvimento da China (CBD), o maior banco de fomento do mundo e um dos principais prestamistas chineses à América Latina.

"Para a Aliança, a China representa a interlocução com a segunda economia do mundo, e faz parte de um dos objetivos de ter presença integral na região da Ásia Pacífico", expressou Julián Ventura, embaixador do México na capital chinesa.

A China é, de fato, o primeiro ou o segundo sócio comercial dos países do bloco, com exportações ao bloco de 75 bilhões de dólares e importações de 35 bilhões de dólares no ano passado, segundo dados dos quatro países latino-americanos.

Esses países apostam em aumentar suas vendas de produtos agropecuários mediante acordos de livre comércio como os que Chile e Peru já têm assinados com a China.

"Com uma aplicação de processos de transformação nos países que já temos adiantados processos fitossanitários com a China, uma grande gama de produtos agrícolas do bloco poderiam chegar a esse país", explicou à AFP Luis Schmidt, embaixador do Chile na China, que liderou o painel da Agroindústria.

"A Aliança ainda está em uma etapa inicial. Estamos trabalhando para criar uma regulamentação clara tanto nacional como para chineses. Contudo, ainda estamos longes", admitiu Ventura.

A Aliança busca se apresentar como uma plataforma de promoção comercial, que serve de base para a interlocução e a ação, e que pode ser usada pelos investidores chineses para ter acesso a esses mercados com a garantia de que os quatro países oferecem estabilidade econômica, política e judicial, onde seus investimentos sejam protegidos por lei, algo que os investidores chineses veem como risco na América Latina.

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Os membros da Aliança enfatizaram na China que o bloco não responde a interesses políticos. "A Aliança representa uma vontade supranacional. Embora dois países membros tenham eleições em 2014, o grupo se uniu de tal forma que não vai ser afetado porque esta é uma aliança pensada para fomentar as relações comerciais dos países e não a política", disse à AFP, Carmenza Jaramillo, embaixadora da Colômbia na China.

"Os países da Aliança do Pacífico têm sistemas políticos e econômicos estáveis. Por isso nossa instituição está de acordo em apoiar financeiramente esses países para diversificar a cooperação", afirmou Shi Jiyang, representante do CBD, durante o fórum.

Os países membros da Aliança do Pacífico somam no total 209 milhões de pessoas, 39% de toda a América Latina, e no ano passado exportaram bens de 556 bilhões e importaram 551 bilhões.

O grupo não é bem visto por alguns presidentes latino-americanos, sobretudo, de governos de esquerda. O presidente boliviano, Evo Morales, afirmou em outubro que a Aliança do Pacífico é uma "conspiração" dos Estados Unidos "para dividir" a integração latino-americana.

Diversificação do investimento

"O que nos interessa é uma diversificação nos investimentos. Não queremos que o investimento chinês seja apenas de exploração de recursos naturais, mas sim, de desenvolvimento de infraestrutura turística à geração de industrialização", disse Gutiérrez.

Os projetos de investimento buscam promover a interconectividade entre os quatro países e otimizar o desenvolvimento mediante infraestrutura energética e de mineração de longo prazo; um ponto atrativo para as empresas chinesas que buscam se internacionalizar de forma estável e segura em outras regiões.

O desenvolvimento de infraestrutura turística é um dos aspectos que mais buscam enfatizar. "Um dos desafios mais notórios é oferecer a região como destino turístico. Já vem sendo trabalhado de uma forma conectada para formar um mecanismo de facilitação para o movimento de negócios na região. O passo seguinte é estabelecer mecanismos conjuntos para facilitar o visto aos turistas chineses", disse Gutiérrez.

Esta é a quinta vez em menos de dois anos que a Aliança do Pacífico realiza este tipo de eventos na Ásia. Em 2012, foram realizados fóruns de investimento em Tóquio, Seul e Xangai, sendo esta última cidade a sede do primeiro fórum deste ano, realizado dia 20 de novembro.