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Polícia ucraniana fracassa em tentativa de desalojar manifestantes

O primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, por sua vez, indicou que as operações policiais estavam destinadas apenas à "limpeza das vias públicas cobertas de neve"

Agência France-Presse
postado em 11/12/2013 16:47
A polícia antidistúrbios ucraniana fracassou nesta quarta-feira (11/12) em sua tentativa de desalojar do centro de Kiev os milhares de manifestantes opositores, que gritaram vitória e receberam o apoio de uma representante da diplomacia americana.

Diante das críticas da comunidade internacional e depois de reuniões com autoridades americanas e europeias, o presidente ucraniano, Viktor Yanukovich, prometeu não recorrer à força contra as manifestações pacíficas, ao mesmo tempo em que pediu diálogo com a oposição.

"Para poder chegar a um compromisso, peço à oposição que não rejeite as conversações e não continue no caminho do confronto e dos ultimatos", declarou Yanukovich em um comunicado.

O primeiro-ministro ucraniano, Mykola Azarov, por sua vez, indicou que as operações policiais estavam destinadas apenas à "limpeza das vias públicas cobertas de neve".

Azarov assegurou que a entrada da Ucrânia na União Alfandegária proposta por Moscou não está sobre a mesa e afirmou que Kiev está disposta a assinar um acordo de associação com a União Europeia (UE) se receber 20 bilhões de euros em ajuda em investimentos.

Na Praça da Independência, a oposição gritou vitória depois que milhares de policiais antidistúrbios a abandonaram após tentarem recuperá-la durante a noite das mãos dos manifestantes.

"Aqui é onde é decidido o destino da Ucrânia", lançou Arseni Yatseniuk, um dos líderes da oposição, a partir do palco instalado no centro da praça entre barracas e barricadas.

"Conseguimos", declarou o líder nacionalista Oleg Tiagnybok. "O poder tem medo dos ucranianos", afirmou o líder do partido Udar, o boxeador Vitali Klitschko.



Intervenção policial é inadmissível

Os manifestantes reunidos na Praça da Independência receberam a visita da secretária de Estado adjunta americana, Victoria Nuland, que chegou a Kiev na véspera para tentar uma mediação depois de ter passado por Moscou.

Nuland se dirigiu à praça após a visita ao local na terça-feira da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, que antes havia se reunido com o presidente ucraniano.

Nuland classificou de inadmissível a intervenção policial contra os manifestantes e assegurou que o país deve "salvar seu futuro europeu", depois de também se reunir com Yanukovich.

"Digo claramente que o que aconteceu ontem à noite é absolutamente inadmissível em um Estado democrático", declarou Nuland.

"Acreditamos que a Ucrânia ainda tem uma possibilidade de salvar seu futuro europeu", acrescentou, afirmando que, para isso, será necessário retomar o diálogo com a Europa e o FMI.

Os Estados Unidos manifestaram seu desgosto e a UE sua tristeza depois que milhares de policiais antidistúrbios começaram às 02h00 (22h00 de Brasília) a desmantelar as barricadas e a desalojar os manifestantes da Praça da Independência, ocupada há mais de duas semanas e palco de concentrações de centenas de milhares de pessoas.

"Condeno o uso da força e da violência - que não pode ser uma resposta às manifestações pacíficas - e peço para que se esforcem ao máximo em termos de moderação", declarou em um comunicado a chefe da diplomacia da UE.

Os policiais, que inicialmente conseguiram recuperar o controle de um terço da praça, posteriormente foram cercados pelos milhares de manifestantes.

Apesar dos confrontos, que deixaram vários feridos nos dois grupos, os policiais agiram de maneira relativamente tranquila utilizando seu escudo para repelir a multidão.

Onze manifestantes foram detidos, segundo a oposição.

O chefe da Igreja Ortodoxa ucraniana, o patriarca Filaret, advertiu nesta terça-feira que a Ucrânia corre o risco de cair em uma guerra civil e pediu que as autoridades do país cessem a violência e assinem o acordo de associação com a União Europeia.

"As ações violentas só podem levar a uma radicalização do protesto e a um conflito civil maior", declarou.

"Para sair da crise é indispensável iniciar rapidamente um diálogo em alto nível entre os representantes do poder, da oposição e da sociedade civil", considerou, exigindo uma "moratória nas ações violentas".

"Levando-se em conta que a razão dos protestos civis foi o adiamento sine die da assinatura de um acordo de associação com a UE, a maneira mais aceitável de sair da crise pode ser uma finalização rápida das negociações e a assinatura deste acordo", acrescentou o patriarca.

20 bilhões de euros

No início da manhã desta quarta-feira, pouco depois da ação na praça da Independência, as forças de segurança tentaram recuperar a prefeitura de Kiev, situada perto da praça e ocupada pela oposição, que no domingo estabeleceu no local seu quartel-general.

Os policiais, que recorreram aos seus cassetetes, também precisaram deixar o local diante da hostilidade da multidão e depois de terem sido atingidos pela água de uma mangueira de incêndio a uma temperatura de 10 graus abaixo de zero.

Yatseniuk, responsável pelo partido da opositora detida Yulia Timoshenko, prometeu ao governo que irá colocar milhares de manifestantes nas ruas se as forças de segurança prosseguirem com seus ataques.

Esta onda de protestos nasceu no fim de novembro quando o poder ucraniano decidiu renunciar a um acordo de associação com a UE para se voltar em direção à Rússia.

Moscou ameaçou com medidas de represália e oferece bilhões de dólares à Ucrânia, ex-república soviética de 46 milhões de habitantes afundada em uma profunda crise econômica e financeira.

A oposição acusa Yanukovich de preparar em segredo a entrada da Ucrânia na União Alfandegária estabelecida por Moscou e que integra ex-repúblicas soviéticas.

Azarov afirmou nesta quarta-feira que o tema não está na ordem do dia de uma reunião entre o presidente ucraniano e seu colega russo, Vladimir Putin, prevista para o dia 17 de dezembro em Moscou.

O primeiro-ministro repetiu que a Ucrânia não assinou o acordo de associação com a UE por razões exclusivamente econômicas e anunciou que Kiev está disposta a fazê-lo em troca de 20 bilhões de euros de ajuda europeia.

"Propomos que a União Europeia participe dos investimentos em projetos comuns mutuamente vantajosos, como a ampliação e a modernização dos corredores de transporte", declarou, em clara alusão aos gasodutos que atravessam o país.

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