Ramallah - O secretário de Estado americano, John Kerry, tentava superar nesta sexta-feira a rejeição ao plano de Washington sobre a segurança das fronteiras de um futuro Estado palestino, depois que o presidente palestino, Mahmud Abbas, rejeitou a presença militar israelense após um acordo de paz.
Kerry se reuniu nesta manhã em Jerusalém com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. O ministro israelense da Defesa, Moshé Yaalon, que deveria participar do encontro, não conseguiu chegar ao local previsto por causa da neve que paralisou a cidade, segundo seu porta-voz. "Quis voltar aqui a fim de tentar prosseguir com nossas importantes discussões", explicou o chefe da diplomacia americana, que realiza sua segunda viagem à região em uma semana, antes de partir para o aeroporto de Tel-Aviv, em direção ao sudeste da Ásia.
"É construtivo. Mas sempre muito complicado", reconheceu. "Temos muitas coisas para discutir e vamos dar prosseguimento a este processo", prometeu antes da reunião. Durante uma reunião na quinta-feira à noite em Ramallah (Cisjordânia), Mahmud Abbas rejeitou a prorrogação da presença militar israelense na Cisjordânia após um acordo de paz, segundo uma fonte palestina. "O presidente Abbas rejeitou as ideias expostas pelo secretário de Estado Kerry devido à presença do exército israelense", disse a fonte.
O presidente palestino disse que "rejeita as ideias sobre a segurança porque não figura uma terceira parte e aceita a carta de James Jones (ex-conselheiro de Segurança Nacional americano) que prevê a mobilização de uma terceira parte na fronteira leste da Palestina, com a Jordânia", explicou. "Abbas entregou uma carta expondo a posição palestina e fixando linhas vermelhas", completou a fonte, que citou sobretudo "a recusa de reconhecer Israel como um Estado judaico".
Ele insistiu na "necessidade de solucionar todos os temas" do conflito e manifestou o ceticismo sobre o acordo marco sem calendário que estaria sendo planejado pelo governo americano. Patrulhas israelo-palestinas A imprensa árabe, assim como a israelense, afirma que o plano do governo americano prevê a manutenção da presença militar israelense nas fronteiras entre Cisjordânia e Jordânia durante 15 anos, inclusive depois de um acordo de paz, e pretende apresentar "um acordo marco" que defina as grandes linhas de um acordo final.
Segundo o jornal pan-árabe Al-Quds al-Arabi, o plano também prevê postos de controle e alerta israelenses em pontos altos na Cisjordânia, a garantia do direito de Israel de impedir a entrada de visitantes pela fronteira palestina-jordaniana e patrulhas conjuntas israelo-palestinas ao longo do Jordão. O Departamento de Estado afirma que o objetivo de Washington é alcançar em nove meses, a partir da retomada das negociações, no fim de julho, um "acordo final", e não uma nova "solução transitória". Netanyahu exige que o futuro Estado palestino seja desmilitarizado e que Israel possa manter, a longo prazo, tropas no vale do Jordão, na fronteira com a Jordânia.
Os palestinos rejeitam qualquer presença militar israelense em seu território depois de um acordo de paz, mas aceitam uma força internacional, opção rejeitada por Israel, que insiste na necessidade de "poder defender-se por si mesmo, com suas próprias forças". Em uma coluna publicada quinta-feira, o ex-conselheiro a segurança nacional israelense, o general da reserva Giora Eiland, explica que, "do ponto de vista de Israel, o risco de ceder territórios na Judeia e Samaria (Cisjordânia) não é necessariamente da ameaça apresentada pelos palestinos, mas por outros inimigos" na região.
"Israel insiste em ter um controle ao longo do Jordão e parece que os americanos aceitam", afirmou o general, considerando que, para isto, o exército de Israel precisará de uma faixa de cinco quilômetros de comprimento no vale, uma exigência exorbitante para os dirigentes palestinos. O presidente americano, Barack Obama, advertiu em 7 de dezembro que os palestinos deveriam aceitar um "período de transição" após a assinatura de um acordo de paz. Os Estados Unidos encontraram respostas às preocupações de segurança de Israel, assegurou Obama, jogando a decisão final para o governo israelense.