Agência France-Presse
postado em 20/12/2013 08:46
Moscou - O ex-magnata do petróleo e opositor russo Mikhail Khodorkovsky saiu nesta sexta-feira (20/12) da prisão, depois de mais de 10 anos de detenção, graças a um indulto presidencial. O ex-presidente do grupo Yukos, que já foi o homem mais rico da Rússia, deixou o campo de detenção na cidade de Segezha, na região de Carelia (noroeste), pouco depois do meio-dia (6h de Brasília), segundo a agência Interfax.Alguns minutos antes, o presidente Vladimir Putin assinou o indulto com efeito imediato, citando razões humanitárias. "Por princípios humanitários, decreto que Mikhail Borisovich Khodorkovsky (...) deve ser liberado da prisão antes do fim de sua pena. Este decreto entra em vigor imediatamente", afirma um curto comunicado da presidência.
Na quinta-feira, Putin surpreendeu ao anunciar em sua entrevista coletiva anual que assinaria o indulto do ex-magnata. De acordo com o presidente russo, Khodorkovsky, que deveria deixar a prisão em agosto de 2014, enviou o pedido alegando que sua mãe está muito doente. Mas até o momento as circunstâncias da libertação são pouco claras. O jornal Kommersant afirma nesta sexta-feira que Khodorkovsky fez o pedido de indulto pressionado pelos serviços secretos. Até então, o ex-oligarca se recusara a fazer a solicitação por considerar que isto equivaleria a reconhecer sua culpa.
No início de dezembro, depois da promotoria anunciar a abertura de uma nova investigação, Khodorkovsky recebeu a visita de agentes do serviço secreto, afirma o Kommersant, que menciona fontes que solicitaram anonimato.
Os agentes informaram que o estado de saúde da mãe do ex-magnata, Marina, 79 anos e vítima de câncer, piorava a cada dia e também contaram que ele seria objeto de uma nova investigação, por suposta lavagem de dinheiro, afirma a publicação. "Esta conversa, que aconteceu sem a presença de seus advogados, obrigou Khodorkovsky a escrever ao presidente", completa o Kommersant.
Khodorkovsky, 50 anos, foi detido em 2003 e condenado em 2005 a oito anos de prisão por "falta de pagamento e fraude fiscal". Ao lado dele foi condenado seu colega Planton Lebedev. Em 2010, ao fim de um segundo julgamento por "roubo de petróleo e lavagem de dinheiro" de 23,5 bilhões de dólares, Khodorkovsky recebeu pena adicional de seis anos.
A condenação foi posteriormente reduzida em duas ocasiões, o que deixava a data de libertação do ex-presidente do grupo Yukos em agosto de 2014. O mais rebelde dos oligarcas surgidos nos anos 90, e que foi o homem mais rico da Rússia, caiu em desgraça depois da chegada de Putin ao Kremlin.
Segundo economistas e analistas políticos, o Kremlin busca com a libertação melhorar sua imagem antes dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, em fevereiro de 2014. Ao mesmo tempo, não acreditam que a libertação vai mudar radicalmente o clima do mundo dos negócios na Rússia. "É um sinal muito importante", disse o economista Sergei Guriev, coautor de um relatório muito crítico da segunda condenação de Khodorkovsky em 2010, que motivou muitas pressões e obrigou a se mudar para a França.
O jornal econômico Vedomosti considera a iniciativa um "trunfo" que Putin tirou da manga em um momento crítico. "Pessoalmente, Khodorkovsky já não representa uma ameaça para o sistema", afirma, antes de apontar que a libertação "não vai curar as feridas infligidas à economia e a sociedade há 10 anos". "Os investimentos não vão retornar, as empresas que foram fechadas ou que não foram criadas não retornarão. Os que emigraram não virão", afirma o Vedomosti.
De acordo com simpatizantes, Khodorkovsky foi condenado por financiar opositores de Putin.