A um passo de se tornar o primeiro país a legalizar a produção, a distribuição e a venda de maconha, o Uruguai chegou ao centro do debate mundial sobre políticas de drogas, depois de o parlamento aprovar a lei que muda as regras locais relacionadas ao mercado da erva. À espera de promulgação do presidente José Mujica, o audacioso projeto de lei prevê o controle total do Estado sobre a questão e divide opiniões entre organismos internacionais e países vizinhos, que temem o aumento do tráfico na região. Estudiosos envolvidos na discussão, porém, descartam reflexos negativos e consideram que o país fortalece a tendência de impor parâmetros globais. O texto colaborou para que o Uruguai fosse eleito o ;país do ano; pela revista The Economist.
Embora a proposta de controle efetivo de Montevidéu sobre a produção para uso próprio ou para clubes de fumo seja questionado por opositores, dentro e fora do país (leia a entrevista com o deputado Osmar Terra), os simpatizantes entendem que a maconha causa menos danos sociais e fisiológicos do que o álcool e o tabaco. ;A possibilidade de aumento do consumo de maconha sempre é analisada longe do aspecto de que isso acarretaria em uma diminuição do uso do álcool. Pode ser que a erva se torne uma alternativa à única substância usada para o lazer, que é permitida hoje, apesar de problemática;, opina Henrique Carneiro, historiador da Universidade de São Paulo (USP) e estudioso do consumo de drogas nas sociedades. Para ele, a preocupação em torno da escalada do trânsito da erva nas fronteiras uruguaias desconsidera o contexto global de uma ;mudança de paradigma;. ;A maconha vai deixar de se tornar produto ilícito e se tornará commodity, com alto rendimento financeiro. A discussão é sobre quem vai lucrar com esse negócio; se serão grandes empresas multinacionais, como já ocorre com o tabaco e o álcool, ou se será o Estado;, avalia.
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A despeito das críticas da ONU ; que advertiu o Uruguai pela violação de tratados internacionais e por agir individualmente em um tema que demanda esforços conjuntos ;, Carneiro sustenta que a experiência uruguaia e o debate em diversos países vão exigir de organismos multilaterais a revisão de convenções sobre o tema, provocando mudanças de padrões ;das relações internacionais e da jurisprudência;.
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