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Síria: 330 mortos em oito dias de bombardeios no norte a um mês de Genebra

Apenas para esta segunda, pelo menos 30 pessoas, incluindo 12 crianças e duas mulheres, foram mortas quando barris cheios de dinamite foram jogados nos bairros rebeldes de Marjé e Soukkari

Agência France-Presse
postado em 23/12/2013 20:31
Damasco - A oposição síria alertou nesta segunda-feira (23/12) que não vai participar da conferência de paz em janeiro se forem mantidos os bombardeios a Aleppo, que causaram a morte de pelo menos 330 pessoas em oito dias, incluindo cerca de 100 crianças.

Se "as tentativas de aniquilar o povo sírio forem mantidas, a coalizão não irá a Genebra", declarou em um comunicado o secretário-geral da coalizão, Badr Jamous.

"Se os países (estrangeiros) não podem fazer pressão sobre o regime para que detenha suas operações de destruição (...), como podem fazer pressão sobre o regime em Genebra 2 para obter uma solução política?", acrescentou.

Apenas para esta segunda, pelo menos 30 pessoas, incluindo 12 crianças e duas mulheres, foram mortas quando barris cheios de dinamite foram jogados nos bairros rebeldes de Marjé e Soukkari, no sudeste de Aleppo, anunciou o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Para os oito dias anteriores, o OSDH, que se baseia em um ampla rede fontes civis, médicas e militares em todo o país, registrou 301 mortos, "sendo 87 crianças, 30 mulheres e 30 rebeldes".

"De 15 a 22 de dezembro, 301 pessoas morreram, incluindo 87 crianças, 30 mulheres e 30 rebeldes", afirmou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), que se baseia em uma ampla rede de fontes civis, médicas e militares por todo o país.

A ofensiva coincide com um avanço das tropas do regime sírio, que se beneficia, segundo os analistas, do silêncio internacional. A oposição síria e várias ONGs acusam o regime de Bashar al-Assad de usar "barris de explosivos" cheios de TNT em ataques a essas áreas rebeldes para minar o moral da população.

Uma fonte de segurança de Damasco explicou à AFP que o Exército recorre aos bombardeios aéreos nessa província para apoiar suas tropas em terra, já que as forças terrestres não contam com meios para lançar uma ofensiva em Aleppo e que o grande número de vítimas se deve às posições rebeldes estarem entre civis.

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Apesar de o regime não reconhecer oficialmente o uso desses barris, uma fonte de segurança afirmou à AFP que essa técnica é mais barata do que a utilização de mísseis.

Aleppo, uma das principais frentes do conflito sírio, está dividida, desde o verão de 2012, entre setores controlados pelos rebeldes e pelo Exército. O Exército sírio conta nesta região, próxima ao Líbano, com a valiosa ajuda do movimento xiita libanês Hezbollah.

A oposição síria pede desde o começo do conflito a implantação de uma zona de exclusão aérea, mas a reivindicação é ignorada pelos países ocidentais que apoiam a coalizão que combate o presidente Bashar al-Assad.

"Já não há linhas vermelhas"

Segundo os analistas, o regime não se preocupa com a reação da comunidade internacional. "Já não há linhas vermelhas, agora há luz verde", afirmou à AFP, Salman Shaij, diretor do Brookings Doha Center, referindo-se à "linha vermelha" que o presidente americano, Barack Obama, estabeleceu depois do uso de armas químicas pelo Exército.

Os Estados Unidos recuaram na última hora em sua intenção de responder com uma operação armada a um ataque com armas químicas em agosto, pelo qual o regime foi acusado. Para Shaij, o discurso dominante dos países ocidentais é que o regime de Assad é o menos pior dos cenários frente aos jihadistas, dos quais uma parte vem da Europa.

"O regime bombardeia porque pode se permitir. Ninguém o detém", destacou. As vitórias do Exército sírio nas últimas semanas permitirão ao regime sírio, segundo Shaij, se apresentar em uma posição de força na conferência de paz de Genebra 2 - que começará no dia 22 de janeiro na cidade suíça de Montreaux -, enquanto a oposição está cada vez mais frágil.

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