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Moradores da cidade onde Jesus nasceu convivem com opressão e escassez

Mesmo assim, celebram a tradição do Natal com fé, emoção, músicas e ceia farta. Muro construído por Israel afugenta turistas

Rodrigo Craveiro
postado em 24/12/2013 06:04
Peregrina se debruça diante da estrela que marca o ponto onde a Virgem Maria deu à luz Jesus Cristo, na Gruta da Natividade

O presépio vendido pelos artesãos de Belém, na Cisjordânia, retrata como a religião e a opressão convivem em um mesmo espaço na terra natal de Jesus Cristo. Ao fundo, uma muralha gigantesca foi colocada no lugar da gruta. Uma lembrança aos 25 mil moradores palestinos e a 1,1 milhão de turistas de que a cidade está sob ocupação do Estado israelense. Apesar de todas as dificuldades que essa situação lhes impõe, os cristãos de Belém celebram o nascimento de Cristo com fé, esperança e entusiasmo. A Igreja da Natividade, construída sobre o exato local em que a Virgem Maria deu à luz o Menino Jesus, será o centro nevrálgico das cerimônias desta noite.

Dono de agência de turismo em Belém, Fadi Kattan ; integrante de uma das famílias cristãs mas antigas da cidade ; explica ao Correio que o acesso diário a recursos é controlado por Israel. ;Algumas comodidades básicas, como água e eletricidade, são vendidas exclusivamente a nós pelo governo israelense a preços mais altos. Mesmo que toda a água seja nossa, de acordo com as resoluções das Nações Unidas e pelo fato de os aquíferos estarem dentro da linha de 1967;, afirma ele, referindo-se às fronteiras estabelecidas naquele ano. ;No verão, recebemos água a cada 40;, acrescenta.

De acordo com Kattan, a vida sob ocupação significa a ausência de continuidade territorial e o controle absoluto de movimentos por parte de Israel. Os moradores de Belém não podem ir a Jerusalém, e qualquer viagem ao exterior demanda alcançar a Jordânia, por meio de uma fronteira rigorosamente controlada pelo Exército judeu. Ainda assim, ele admite que ser um cristão em Belém é algo muito especial. ;A beleza de viver aqui está no fato de que todos os moradores, sejam eles cristãos ou muçulmanos, são um só povo, palestino;, explica Kattan.

E isso fica explícito no Natal, quando famílias islâmicas dividem a ceia em lares cristãos. ;A Praça da Manjedoura reflete esse sentimento. De um lado, temos a Igreja da Natividade; do outro, a Mesquita de Omar. É um símbolo muito forte de unidade e de unicidade;, admite o empresário. Os preparativos para a comemoração do aniversário de Jesus tiveram início no começo do mês, com o acendimento das árvores de Natal na praça e na Universidade de Belém. Durante a semana, o local serviu de palco para atividades culturais, que vão desde músicas natalinas a shows de rock. O cheiro de milho quente, das castanhas assadas e do sahlab ; uma típica bebida quente à base de raízes de orquídeas ; invade o ambiente.

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