Agência France-Presse
postado em 24/12/2013 15:24
[FOTO1]Um carro-bomba matou 13 pessoas e deixou mais de 100 feridas nesta terça-feira (24/12) em frente a um edifício da polícia no Egito, em um dos atentados mais sangrentos desde que o presidente islamita Mohamed Mursi foi deposto pelo exército, em julho.
O ministério do Interior informou que 12 policiais figuravam entre os mortos e, segundo fontes médicas, um civil também faleceu no ataque. Estas fontes haviam informado anteriormente sobre 14 mortos e uma centena de feridos. As autoridades interinas egípcias, que classificaram a ação como uma tentativa de dificultar a transição do país em direção à democracia, consideram que a Irmandade Muçulmana está por trás do atentado.
O grupo do qual Mursi é proveniente condenou este atentado com carro-bomba, cometido em Mansura, no delta do Nilo. Mas no local do ataque se ouviam vozes que acusavam o grupo de ser o responsável pelo crime. Durante a noite, um caminhão carregado, segundo o ministério do Interior, com dezenas de quilos de explosivos explodiu em frente a um edifício da polícia desta cidade, capital provincial de Daqaleya.
No hospital, Mostafa Hadi, um policial ferido, contou à AFP que "ouviu uma explosão enorme". "Fez com que eu voasse pelos ares e desmaiei", acrescentou. Um edifício próximo desabou e as fachadas de outros prédios ficaram destruídas, contou um jornalista a AFP, que também viu um carro completamente destroçado.
Muitos moradores estavam furiosos com o ocorrido e demonstravam sua ira contra a Irmandade Muçulmana. "É uma organização terrorista internacional, são responsáveis pelo que ocorreu", declarou Hamada Arafat à AFP, acusando o grupo "de adotar as táticas da Al-Qaeda".
Pouco depois do atentado, um assessor do primeiro-ministro Hazem Beblawi afirmou à agência oficial Mena que o chefe do governo havia classificado a Irmandade Muçulmana de "organização terrorista".
Esta declaração tem, sobretudo, um alcance político, diante da proximidade do referendo constitucional de janeiro, primeiro passo para celebrar eleições legislativas e presidenciais ao longo de 2014, e que é boicotado pela Irmandade Muçulmana. Não parece uma mudança que gerará consequências imediatas para o grupo, já proibido em virtude de uma sentença judicial que foi alvo de recurso.
Em Mansura, o ministro do Interior, Mohamed Ibrahim, considerou que o atentado era "uma tentativa de aterrorizar os egípcios devido ao referendo", previsto para os dias 14 e 15 de janeiro. Mas prometeu que "há um plano para garantir a segurança" da consulta popular.
As novas autoridades dirigidas de fato pelos militares costumam acusar a confraria de ajudar e financiar os autores de ataques cometidos contra as forças de segurança desde a deposição de Mursi, primeiro presidente eleito democraticamente no país.
"Não é nada surpreendente que Beblawi, o primeiro-ministro fantoche da junta militar, decida se aproveitar do sangue dos egípcios inocentes com declarações incendiárias destinadas a criar mais violência, caos e instabilidade", responderam em um comunicado os membros da Irmandade Muçulmana, que condenaram energicamente o atentado.
"Ataque mais sofisticado que os anteriores"
"Este ataque é mais sofisticado que os anteriores. Isto pode ser um sinal do que virá. A revolta no Sinai se reforçou e se estende para além" da península, considerou Shadi Hamid, diretor de investigação do Brookings Doha Center.
[SAIBAMAIS]Grupos jihadistas, alguns vinculados à Al-Qaeda, reivindicam permanentemente ataques contra as forças de segurança, sejam do exército ou da polícia.
Os ataques, que mataram mais de uma centena de soldados e policiais desde julho, se multiplicaram desde que Mursi foi deposto pelo exército depois que milhões de manifestantes pediram sua renúncia por sua gestão e por ter, segundo eles, beneficiado a Irmandade.
Assim como Mursi, quase toda a liderança da confraria está atrás das grades e é alvo de investigações judiciais. Foram detidos durante a implacável repressão do governo, dirigido de fato pelo exército, contra os manifestantes partidários de Mursi. Esta campanha terminou com mais de mil mortos e milhares de detidos.