Mundo

Três importantes ministros turcos deixam o governo nesta quarta-feira

Governo islamita moderado do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, vive escândalo de corrupção

Agência France-Presse
postado em 25/12/2013 12:42
Três importantes ministros turcos deixaram o governo nesta quarta-feira (25/12), transformando-se nas primeiras vítimas políticas do maior escândalo de corrupção enfrentado pelo governo islamita moderado do primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan.

Um terceiro ministro, o do Meio Ambiente, anunciou sua demissão nesta quarta-feira, somando-se aos titulares das pastas do Interior e da Economia, que fizeram o mesmo horas antes, e pediu ao chefe de governo que deixe o cargo. "Renuncio aos meus cargos de ministro e deputado", declarou Erdogan Bayraktar à emissora privada NTV. "O primeiro-ministro também teria que se demitir", prosseguiu.

Leia mais notícias em Mundo


Diretamente ameaçado pela renúncia dos três ministros, o chefe de governo é aguardado a qualquer momento no gabinete do chefe de Estado, Abdullah Gul, para fazer uma mudança no gabinete, em meio ao escândalo financeiro que degenerou em uma crise política séria nesta quarta-feira.

Após apresentar sua renúncia, Bayraktar assegurou que não tinha "nada a (se) criticar" na investigação judicial sobre uma série de projetos de construção que salpica membros do gabinete. O ministro demissionário reforçou que o chefe de governo estava bem informado do que fazia na pasta do Meio Ambiente. "Não há nada no expediente da investigação (...) que me prejudique ou que eu não possa explicar", destacou.

[SAIBAMAIS]"Mas não aceito pressão nenhuma para me demitir por um escândalo no qual há suborno e corrupção. Não aceito porque a grande maioria dos projetos de construção (...) foi realizada com a aprovação do primeiro-ministro", declarou, assegurando que, por isso, pedia também a renúncia de Erdogan. Horas antes, também nesta quarta-feira, o ministro do Interior, Muamer Güler, e seu colega da Economia, Zafer Caglayan, ligados a Recep Tayyip Erdogan, tinham anunciado sucessivamente sua demissão, denunciando um "complô" para desestabilizar o governo islamita moderado.

"Deixo meu cargo de ministro da Economia para que se possa esclarecer tudo o relacionado com uma operação abjeta que aponta ao nosso governo", afirmou Caglayan em um comunicado aberto.

Güler explicou ter se demitido para "desmontar um complô repugnante".

Os dois homens estavam no olho do furacão, após a detenção de um grupo de 24 pessoas, entre as quais seus filhos, por suspeita de envolvimento em um escândalo financeiro de grande envergadura. Os detidos estão em prisão preventiva.

A polícia prendeu estas pessoas, entre as quais estão ainda executivos e o diretor-geral do banco Halkbank, em 17 de dezembro, no âmbito de uma ampla investigação anticorrupção, que preocupa a elite islamita no comando do país desde 2002.

Bayraktar e o encarregado das Relações europeias, Egeman Bagis, também aparecem no processo judicial por suposto envolvimento no escândalo, mas negam estas acusações.

Segundo observadores, a demissão dos ministros acontece antes da aguardada renovação do governo até o final da semana.

Erdogan, que voltou na terça-feira a Ancara, depois de permanecer dois dias no Paquistão, deve fazer rapidamente a troca dos ministros, que já estava prevista com vistas às eleições municipais de março.

O premier recusou-se a comentar a demissão dos três ministros, insistindo na denúncia de um "complô".

Diante de milhares de partidários, Erdogan não fez qualquer comentário sobre a saída dos membros de seu gabinete e insistiu mais uma vez na existência de um "complô com ramificações internacionais" orquestrado para desestabilizar o país e sua economia, tese levantada desde as detenções na semana passada.

Ele criticou os ataques da confraria de Fethullah Gülen, a quem acusa implicitamente de montar este complô com o objetivo, segundo afirma, de destruir os avanços políticos e econômicos obtidos nos últimos dez anos.

Questionado em junho passado por um importante setor juvenil do país, agora Erdogan é pressionado por seus próprios partidários, particularmente pela irmandade de Gülen. Esta guerra fratricida mudou o panorama político nacional, com vistas às eleições municipais e presidenciais de 2014.

Erdogan ainda não declarou quais são suas intenções, mas é obrigado pelas regras internas do seu partido, o AKP, a deixar o governo após as eleições legislativas previstas em 2015 e acredita-se que tentará se eleger chefe de Estado, cargo que pela primeira vez será atribuído por sufrágio universal direto.

A crise política continuou afetando os mercados, onde a lira, a moeda nacional, manteve sua queda, a 2,0907 libras por dólar no fechamento contra 2,0650 na véspera. O principal índice da Bolsa de Istambul recuou mais de 4,2% com relação à véspera.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação