Agência France-Presse
postado em 28/12/2013 09:10
Istambul - O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, mobiliza novamente neste sábado seus partidários decidido a resistir por todos os meios à justiça, aos seus rivais e às ruas, num momento em que a Turquia afunda em uma crise pelo escândalo político-financeiro que atinge o governo.[SAIBAMAIS]Erdogan deve tomar a palavra na tarde deste sábado ante seus partidários em Manisa (oeste), um dia após a polícia intervir em Istambul, Ancara e em uma dezena de outras cidades do país para dispersar milhares de pessoas que exigiam a renúncia do primeiro-ministro e do governo. Nesse mesmo dia o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no governo, vivia um novo dia de deserções ente suas fileiras.
Os slogans dos manifestantes, os violentos incidentes com as forças de ordem, as bombas de gás lacrimogêneo e as barricadas lembram a revolta antigovernamental de junho em torno da praça Taksim de Istambul.
Segundo advogados locais, a polícia deteve 70 pessoas na noite de sexta-feira na maior cidade da Turquia. "O governo deve renunciar por este roubo, por toda esta corrupção", indicou Yagmur, uma estudante que protestava em Istambul. "Agora sabemos de tudo, mas ainda não renunciaram (...) Vamos defender nossos direitos e continuaremos nas ruas", afirmou.
Em Istambul e em Ancara, as manifestações reuniram os mesmos grupos de jovens, muito politizados, que em junho desafiaram o governo durante três semanas.
Diante dos protestos nas ruas, Erdogan utilizou a mesma estratégia aplicada há seis meses para apagar os protestos e denunciou ante milhares de partidários em Istambul um complô contra ele.
O chefe de governo islamita moderado também questionou os magistrados do Conselho de Estado, que há alguns dias suspenderam um decreto que obrigava a polícia a informar a sua hierarquia sobre qualquer detenção. "Se pudesse, os julgaria", disse.
Desconfiança
A três meses das eleições municipais, Erdogan, seguro do apoio da maioria da população, repreendeu os três deputados que abandonaram na sexta-feira as fileiras do AKP como consequência do escândalo em curso.
Além disso, o primeiro-ministro acusou mais uma vez o pregador muçulmano Fethullah Gulen de estar por trás da investigação anticorrupção que terminou com a detenção de vinte pessoas próximas ao poder e provocou a renúncia de três ministros.
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A confraria de Gulen, aliada do AKP desde sua chegada ao poder, em 2002, declarou recentemente sua guerra ao governo por seu projeto de suprimir algumas escolas privadas.
A imprensa próxima à oposição criticou neste sábado a atitude desafiadora de Erdogan. "Não há espaço para dúvidas, a corrupção é uma praga (...) mas a atmosfera política que o primeiro-ministro criou neste assunto é pior e ainda mais prejudicial que a própria corrupção", escreveu Murat Belge no jornal Taraf.
Os mercados financeiros, apesar da remodelação ministerial da última quarta-feira, mostram a mesma inquietação pela incerteza criada com a crise. A moeda turca caiu na sexta-feira ao seu nível histórico mais baixo.