Agência France-Presse
postado em 02/01/2014 16:01
O secretário de Estado americano, John Kerry, se reuniu nesta quinta-feira (2/1) em Jerusalém com o primeiro-ministro israelense, dando início a sua 10; missão para avançar nas negociações de paz, apesar do pessimismo e das recriminações mútuas.
O chefe da diplomacia americana desembarcou no início da tarde em Tel Aviv antes de se encontrar com o premiê Benjamin Netanyahu, de acordo com um correspondente da AFP.
A chegada de Kerry coincidiu com o anúncio sobre o "estado de saúde crítico" de Ariel Sharon, ex-primeiro-ministro e ex-homem forte da direita israelense, em coma há oito anos.
Ele assegurou a seus anfitriões que "todos os americanos têm um pensamento por Israel e seu ex-líder".
O secretário de Estado deve discutir com israelenses e palestinos um projeto de acordo americano, traçando as bases de uma solução definitiva para o conflito.
"Tenho a intenção de trabalhar com ambas as partes de forma mais intensa nos próximos dias para reduzir as divergências sobre um quadro que oferece diretrizes para as negociações sobre um estatuto final", afirmou Kerry em sua chegada.
"Um acordo aprovado (por ambos os lados), seria um avanço significativo, que permitiria abranger todas as questões substantivas", como as fronteiras, segurança, o status de Jerusalém e dos refugiados, ressaltou.
Mas israelenses e palestinos culpam um ao outro por sabotar os esforços de paz.
Netanyahu denunciou o fato de os prisioneiros palestinos libertados esta semana serem recebidos como "heróis" pelo presidente palestino Mahmud Abbad
Várias disputas, especialmente a expansão dos assentamentos judaicos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia e o status do vale do Jordão, devem pesar nas reuniões de John Kerry.
Sua visita também coincide com uma onda de violência na Cisjordânia e na Faixa de Gaza.
Um palestino de 85 anos morreu nesta madrugada depois de inalar gás lacrimogêneo usado pelo exército israelense para dispersar uma manifestação no norte da Cisjordânia, e em Gaza, um palestino de 16 anos ficou gravemente ferido nesta quinta-feira por tiros israelenses perto do muro de segurança com Israel.
O presidente Abbas, que receberá Kerry sexta-feira em Ramallah, ameaçou acionar organismos internacionais contra o "câncer da colonização" israelense.
Ele também reiterou a sua recusa a "qualquer presença militar israelense em territórios pertencentes ao Estado independente da Palestina", referindo-se ao Vale do Jordão, nas fronteiras da Cisjordânia e Jordânia.
De acordo com o jornal israelense Maariv, durante sua última visita em dezembro, John Kerry propôs "uma presença militar israelense limitada a pontos de passagem sobre o Rio Jordão", mas Israel já rejeitou estes acordos.
Uma comissão ministerial israelense adotou no domingo um projeto de lei apresentado pela direita ultra-nacionalista, que prevê a anexação do Vale do Jordão, mesmo em caso de acordo de paz.
Embora tenha principalmente valor simbólico, este projeto tem sido denunciado pelos palestinos, que só aceitam a presença de uma força internacional no Vale do Jordão.
"O acordo proposto (por Washington) limita a soberania palestina sobre o solo palestino", insistiu nesta quinta-feira um líder da Organização de Libertação da Palestina (OLP), Yasser Abed Rabbo, em um comunicado.
"O que realmente faria avançar as discussões seria desenhar as fronteiras entre Israel e um Estado palestino com base nas fronteiras de 1967 (...), e estabelecer um calendário claro para a retirada (de Israel) de todo o território palestino", argumentou Abed Rabbo.
Nesta manhã, uma delegação de deputados da direita e da extrema-direita, liderada pelo ministro do Interior Gideon Saar, inaugurou um assentamento judaico no Vale do Jordão, "que é e continuará a ser israelense", disseram.
De acordo com uma pesquisa divulgada terça-feira pela Universidade Hebraica de Jerusalém, 51% dos israelenses acreditam que os esforços dos Estados Unidos irão falhar, contra apenas 39% que pensam que terão resultados.