Agência France-Presse
postado em 08/01/2014 11:54
Fallujah - Novos combates e bombardeios foram registrados nesta quarta-feira na cidade iraquiana de Fallujah, ainda sob o controle de homens armados, embora guardas de trânsito tenham retornado para as ruas.Os membros do Estado Islâmico no Iraque e do Levante (EIIL), um grupo ligado à Al-Qaeda, e membros de tribos tomaram o controle nos últimos dias de Fallujah, uma cidade na província predominantemente sunita de Al-Anbar, na fronteira com a Síria.
Homens armados estabeleceram bases em pontes e nas entradas dos bairros, de acordo com um correspondente da AFP no local. Eles também estavam presentes nas estradas que levam à cidade, 60 km a oeste de Bagdá.
Membros da guarda de trânsito, responsáveis pelo controle da circulação de veículos e monitoramento de cruzamentos, retornaram à cidade, com o consentimento dos homens armados, cuja lealdade ainda não está clara.
Os semáforos voltaram a funcionar e algumas lojas reabriram. Na manhã desta quarta-feira, confrontos foram registrados em bairros de al-Askari (leste) e Al-Shuhada (oeste). Esses setores também foram bombardeados.
Mais uma vez, não foi possível estabelecer quais os grupos estavam envolvidos nesses combates. Quatro grupos principais estão envolvidos nos confrontos que começaram há uma semana: as forças de segurança com o apoio de tribos, membros do EIIL e tribos hostis ao governo.
[SAIBAMAIS]
O exército, apoiado por helicópteros, também combate nesta quarta-feira os insurgentes em Khaldiyah, uma região perto de Ramadi (100 km a oeste de Bagdá), de acordo com um capitão da polícia.
Além de Fallujah, o EIIL assumiu na semana o controle de vários bairros de Ramadi, capital da província de Al-Anbar. A violência, iniciada em 30 de dezembro com o desmantelamento em Ramadi de um acampamento de manifestantes sunitas anti-governo, matou mais de 250 pessoas, de acordo com uma contagem AFP com base em fontes oficiais e médicas.
Esta é a primeira vez desde a revolta que se seguiu à invasão do Iraque liderada pelos Estados Unidos em 2003 que militantes da Al-Qaeda assumem abertamente o controle de áreas urbanas do país.
Os últimos combates ocorrem poucas horas após o apelo do EIIL aos sunitas a continuarem sua luta contra as forças armadas governamentais. "Sunitas não baixem as armas, porque se vocês as depuserem agora, os xiitas reduzirão vocês a escravos e vocês não se erguerão mais", afirmou o porta-voz do EIIL, Abu Mohammed al-Adnani.
O porta-voz do Ministério da Defesa, Mohamed al-Askari, indicou na terça-feira que os soldados mobilizados perto de Fallujah esperavam para lançar uma ofensiva, explicando que é "preciso evitar que o sangue de seus habitantes seja derramado".
O primeiro-ministro Nuri al-Maliki, um xiita, pediu para que as tribos expulsem os combatentes do EIIL para evitar um ataque contra Fallujah. Os líderes tribais asseguram que a cidade está nas mãos de homens armados pertencentes às tribos.
Os homens das tribos "combatem para proteger Fallujah e Garma (cidade a 10 km de distância) dos ataques do exército", indicou nesta quarta-feira o xeque Rafa al-Jumaili.
Reforços do exército continuavam sendo mobilizados em torno de Fallujah, cidade de onde um grande número de moradores fugiu nos últimos dias.
Segundo o Crescente Vermelho iraquiano, mais de 13.000 famílias fugiram da cidade. "A maioria vive agora em colégios, prédios públicos e em casa de familiares de outras localidades", declarou uma fonte da ONG, Mohamed al Juzaie, que informou que o Crescente Vermelho forneceu ajuda a mais de 8.000 famílias na região de Al-Anbar.
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Um ataque contra Fallujah, majoritariamente sunita, poderia agravar ainda mais as tensões entre a minoria sunita e o governo dirigido pelos xiitas. Este é o maior desafio para as forças iraquianas, que sofrem para se organizar após a partida dos últimos soldados americanos há dois anos.
Após 2003, a província de Al-Anbar se tornou reduto da insurreição, e foi nesta localidade que as forças americanas sofreram suas maiores perdas.