Agência France-Presse
postado em 08/01/2014 22:07
Turquiaancara - O governo turco prosseguiu nesta quarta-feira (8/1) com uma punição sem precedentes contra o sistema judicial e a polícia, acusados de estarem por trás da investigação do grande escândalo de corrupção que obrigou vários ministros a renunciar, e destituiu os chefes da polícia das maiores cidades do país.O novo ministro do Interior, Efkan Ala, assinou um decreto oficial que destitui 16 oficiais da polícia, entre eles o chefe adjunto da segurança nacional e os chefes das cidades de Ancara, Esmira (oeste), Antalya (sul) e Diyarbakir (sudeste).
Na terça-feira, outro decreto destitui pelo menos 350 policiais em Ancara, elevando a 700 o número de agentes, de todos os níveis, expulsos da corporação desde meado de dezembro, segundo dados da imprensa turca.
Um dos principais promotores de Istambul, Zekeriya ;z, que investigava os casos de corrupção no governo, também foi afastado do cargo, de acordo com os meios de comunicação.
Nos últimos dias a imprensa estatal acusou o promotor de ter passado férias em Dubai pagas por um magnata do setor imobiliário envolvido no caso em que investigava.
;z desmentiu as acusações nesta quarta-feira e revelou que foi ameaçado por dois "enviados" de Erdogan. "Me disseram que o primeiro-ministro estava muito aborrecido comigo e exigiram o fim da investigação, além de um pedido de desculpas".
Erdogan rebateu categoricamente a declaração de ;z, que qualificou de "mentira difamatória".
O governo islâmico-conservador do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan acusa o movimento religioso do pregador muçulmano Fetullah Gulen, que vive na Pensilvânia (Estados Unidos) desde 1999, de ser o responsável pelo escândalo político-financeiro e de "conspirar" para derrubar o governo, a três meses das eleições municipais.
Além desta limpeza da hierarquia policial, o governo Erdogan lançou uma grande operação dentro da justiça, considerada também infiltrada pelo movimento do pregador muçulmano, e uma punição em massa contra funcionários públicos, com a destituição de autoridades dos ministérios das Finanças, Educação e Tranportes.
A União Europeia (UE) expressou nesta quarta-feira sua preocupação com a situação na Turquia e pediu uma investigação "transparente e imparcial" sobre as acusações de corrupção contra o governo.
"Os recentes acontecimentos na Turquia preocupam a Comissão Europeia", declarou um de seus porta-voz, Olivier Bailly.
A decisão do governo em novembro de fechar as escolas privadas de reforço escolar, uma grande fonte de renda de Gülen, provocou o conflito entre seu movimento e o governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de Erdogan, que, no entanto, haviam sido aliados em 2002 para levar o islamismo conservador turco ao poder.