Agência France-Presse
postado em 10/01/2014 13:41
Jerusalém - Israel anunciou nesta sexta-feira (10/1) a construção de 1.800 novas casas em Jerusalém Oriental, anexada, e na parte da Cisjordânia ocupada, ignorando as recomendações do secretário americano de Estado John Kerry durante as complexas negociações para alcançar um acordo israelense-palestino.O ministério da Habitação hebreu divulgou um plano para construir 1.076 alojamentos na anexada Jerusalém Oriental e outros 801 nas colônias já presentes na Cisjordânia, declarou à AFP um porta-voz da ONG Paz Agora, Lio Amihai. "Estas casas serão construídas nas colônias de Efrat e Ariel, na Cisjordânia, e nos bairros de Ramat Shlomo, Ramot e Pisgat Zeev em Jerusalém Oriental", disse.
Kerry, que deixou o Oriente Médio no início desta semana após quatro dias de intensas discussões sem alcançar uma aproximação entre Israel e os palestinos sobre o seu plano de paz, declarou em várias ocasiões que os Estados Unidos consideram a colonização ilegítima. Estas construções estavam previstas para contrabalançar a libertação de 26 presos palestinos, no dia 31 de dezembro, dois dias antes da chegada de Kerry. Israel esperou sua partida para anunciar este plano.
Enquanto isso, nesta sexta-feira, supostos extremistas judeus cortaram árvores frutíferas pertencentes a israelenses de origem árabe, provavelmente em represália pela detenção (e espancamento) de dez colonos judeus por parte de palestinos habitantes de povoados na Cisjordânia ocupada, informou a polícia. Os vândalos deixaram no local panfletos com a frase "Saudações de Esh Kodesh", a colônia selvagem da qual estes colonos eram provenientes.
Em relação à construção das novas casas, a Paz Agora já havia anunciado em julho passado a existência de planos para levantar 5.349 unidades em Jerusalém Oriental e Cisjordânia, nas quais figuravam as 1.800 anunciadas nesta sexta-feira. Os palestinos advertiram em várias ocasiões que, se a colonização na zona da Cisjordânia ocupada prosseguisse, seriam ameaçadas as negociações de paz retomadas em julho sob o patrocínio dos Estados Unidos, depois de três anos de interrupção.
"O projeto de novas construções é uma clara mensagem (do primeiro-ministro israelense, Benjamin) Netanyahu a John Kerry para que não retorne à região para continuar seus esforços nas negociações entre Israel e os palestinos", declarou à AFP nesta sexta-feira Saeb Erakat, negociador chefe palestino.
"Cada vez que Kerry intensifica seus esforços ao retornar à região (para discussões suplementares), Netanyahu o faz com os seus para destruir o processo de paz", acrescentou Erakat. "Netanyahu está determinado em destruir uma solução com dois Estados", estimou o funcionário, fazendo um apelo aos Estados Unidos e ao resto da comunidade internacional "a frear os planos israelenses".
Kerry é esperado novamente na região na próxima semana, segundo meios de comunicação israelenses e fontes palestinas. No entanto, esta visita, que seria a décima primeira desde que Kerry assumiu seu cargo, em março de 2013, ainda não foi confirmada pelo departamento de Estado.
Os esforços de John Kerry, em boa parte traduzidos em suas frequentes visitas à região, parecem não agradar a grande maioria dos israelenses, que, segundo pesquisas publicadas nesta sexta-feira, não acreditam que conclua em um acordo de paz.