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Morre ex-primeiro-ministro israelense Ariel Sharon após coma de oito anos

Sharon estava internado desde 2006, quando sofreu um derrame. Foi o nome por trás de episódios polêmicos como a invasão do Líbano e a retirada de territórios palestinos ocupados

Agência France-Presse
postado em 11/01/2014 10:32
Jerusalém - O ex-primeiro-ministro e homem forte da direita israelense Ariel Sharon faleceu neste sábado depois de permanecer oito anos em coma, provocando uma onda de homenagens em Israel, enquanto os palestinos denunciavam "um criminoso de guerra". O presidente americano, Barack Obama, ressaltou que Sharon foi "um líder que dedicou sua vida ao Estado de Israel". Já o ex-presidente americano Bill Clinton e sua esposa Hillary, ex-secretária de Estado, consideraram que Sharon deu sua vida pelo Estado hebreu.

Líder controverso: saúde de Ariel Sharon vinha se deteriorando

E o presidente francês, François Hollande, declarou, por sua vez, que foi uma "figura central na história de seu país". Várias personalidades israelenses também prestaram homenagens ao político, que foi chamado de "criminoso" pelas autoridades palestinas. "O ex-primeiro-ministro morreu aos 85 anos", indicou o gabinete do chefe de governo israelense, Benjamin Netanyahu.

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Pouco depois, o hospital onde o ex-líder estava internado anunciou seu falecimento. "O Centro Médico Sheba, em Tel Hashomer, anuncia com pesar a morte do ex-primeiro-ministro Ariel Sharon, que foi declarada há aproximadamente uma hora", informou o médico Shlomo Noy em uma coletiva de imprensa realizada às 15h00 locais (11h00 de Brasília). "Seu coração enfraqueceu e ele morreu pacificamente, cercado por sua família, que permaneceu todo o tempo ao seu lado", acrescentou.

[SAIBAMAIS]A memória do ex-primeiro-ministro viverá "para sempre no coração da nação", afirmou Netanyahu. "O Estado de Israel se curva ante a morte do ex-primeiro-ministro Ariel Sharon", declarou o chefe de Governo em comunicado, no qual expressa "seu profundo pesar". "Meu querido amigo Arik Sharon perdeu sua última batalha", lamentou o presidente Shimon Peres, se referindo, pelo diminutivo de Ariel, ao homem que foi seu adversário político por muitos anos. "Arik era um soldado valente e um líder audaz que amava sua nação e a quem sua nação amava", acrescentou Peres, afirmando que Sharon "foi um dos maiores protetores de Israel e um de seus arquitetos mais importantes", que "desconhecia o medo". Já a ministra da Justiça, Tzipi Livni, expressou sua grande tristeza.

Uma comissão ministerial estava reunida na noite deste sábado em Jerusalém para organizar seus funerais, que devem ser realizados na segunda-feira, segundo a imprensa. O caixão ficará exposto no rancho da família, ao sul de Israel, não muito longe da fronteira com Gaza, onde Sharon queria ser sepultado, ao lado da segunda esposa, Lily.

Antes, o caixão de Sharon deverá ser exposto ao público no domingo na Knesset, Parlamento israelense. Os palestinos também não demoraram a reagir à notícia. Quando a notícia de sua morte veio à tona, uma imensa alegria tomou conta do campo de Shatila, em um bairro pobre ao sul de Beirute. "Sharon era um criminoso, responsável pelo assassinato de (Yasser) Arafat, e esperávamos que comparecesse ante o Tribunal Penal Internacional como criminoso de guerra", declarou à AFP Jibril Rabub, funcionário de alto escalão do Fatah, o movimento do histórico líder palestino e do atual presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.

Até a morte de Arafat, em novembro de 2004, Sharon multiplicou as ameaças contra o líder palestino, alimentando as suspeitas sobre seu envenenamento, algo que Israel sempre negou.

Já Sami Abu Zuhri, um porta-voz do Hamas, no poder na Faixa de Gaza, declarou em um comunicado que a morte de Sharon é um "exemplo para todos os tiranos". "Nosso povo vive um momento histórico com o desaparecimento deste criminoso com as mãos cobertas de sangue dos palestinos e de seus líderes", disse o porta-voz do movimento islamita, cujo fundador, xeque Ahmad Yassin, foi morto em 2004 pelo exército israelense sob as ordens de Sharon.

E uma centena de homens da Jihad Islâmica queimaram fotos de Sharon e distribuíram biscoitos em sinal de alegria em Khan Yunes, no sul da Faixa de Gaza, indicou à AFP um integrante deste movimento radical.

Nascido em uma família procedente de Belarus, Ariel Sharon mostrou durante a longa carreira no exército, iniciada aos 17 anos e onde foi ferido em duas ocasiões, um gosto pelos métodos expeditos.

À frente da unidade 101 dos comandos e depois das unidades de paraquedistas, liderou operações de punição. A mais violenta delas terminou em 1953 com a morte de quase 60 civis na localidade palestina de Kibia.

Sharon entrará para a História como o responsável pela invasão do Líbano quando era ministro da Defesa, em 1982, mas também como o chefe de governo que retirou as tropas e os colonos da Faixa de Gaza, em 2005.

Uma comissão de investigação internacional o declarou culpado de não ter previsto nem impedido os massacres realizados nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Chatila em setembro de 1982 por uma milícia cristã aliada de Israel.

Em 1983 precisou renunciar, o que não o impediu de se converter em primeiro-ministro em 2001 nem ser reeleito em 2003.

O estado de saúde de Sharon, que entrou em coma em janeiro de 2006, quando sofreu um derrame cerebral, se deteriorava desde o dia 1; de janeiro e era crítico.

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