Agência France-Presse
postado em 14/01/2014 13:19
Cairo - Os egípcios começaram nesta terça-feira (14/1) a votar no referendo de uma nova Constituição, convertido em plebiscito sobre Abdel Fatah al-Sissi, chefe do Exército e homem forte do país.A votação foi marcada por um atentado sem vítimas e pela morte de uma pessoa em confrontos entre partidários e opositores de Mohamed Mursi, o presidente islamita deposto em julho passado pelas Forças Armadas.
Três dias antes da votação, Al-Sissi, vice-primeiro-ministro, ministro da Defesa e comandante em chefe do Exército, declarou que se apresentará às eleições presidenciais previstas para este ano se "o povo exigir" e se as forças armadas apoiarem sua candidatura.
Em seu discurso no sábado, Al-Sissi vinculou seu apelo para que as pessoas votem a favor do "Sim" com seu futuro político, afirmando que seria candidato apenas se o povo pedir. A votação é realizada nesta terça e quarta-feira em quase 30.000 colégios eleitorais disseminados por todo o país.
No Cairo, as pessoas se concentraram desde a madrugada em frente aos centros de votação instalados em escolas, em ruas vigiadas pela polícia e por soldados fortemente armados. Diante de uma escola para meninas, dezenas de eleitores seguravam bandeiras egípcias e gritavam slogans a favor do exército e de Al-Sissi.
Poucas horas antes da abertura dos colégios eleitorais, uma bomba artesanal explodiu perto de um tribunal do Cairo sem deixar mortos ou feridos, embora as janelas e a fachada do edifício, no bairro de Imbaba, tenham sido muito danificadas. Após a explosão, centenas de pessoas se reuniram diante do tribunal com cartazes com a foto de Al-Sissi.
Por sua vez, uma pessoa morreu em Beni Suef, ao sul do Cairo, em confrontos entre partidários e adversários de Mursi. No dia 3 de julho, o exército derrubou o islamita Mohamed Mursi, o primeiro presidente democraticamente eleito da história do país. Os partidários do presidente deposto continuam protestando diariamente em pequenos grupos, apesar da resposta firme do novo governo.
Desde a deposição de Mursi também ocorreram muitos ataques, sobretudo com carros-bomba contra membros das forças de segurança, reivindicados por grupos jihadistas vinculados à Al-Qaeda. Os militares instauraram um governo interino para que seja realizada uma transição democrática, cuja primeira etapa é o referendo sobre uma nova Constituição.
Mais de mil pessoas morreram pela repressão implacável do exército contra os partidários de Mursi desde sua queda, em particular o movimento islamita da Irmandade Muçulmana, cujos líderes foram quase todos detidos. Assim como Mursi, eles estão sendo julgados por incitação ao assassinato de manifestantes quando estavam no poder e podem ser condenados à pena de morte.
Apesar da repressão, a Irmandade Muçulmana, declarada uma organização terrorista pelo governo, convocou um boicote do referendo. O projeto de Constituição não inclui as referências religiosas acrescentadas durante a presidência de Mursi, mas aumenta os já amplos poderes do exército.
Al-Sissi parece ter confirmado em seu discurso de sábado o que analistas e funcionários de alto escalão já previam: o referendo se apresenta como um plebiscito sobre sua pessoa, porque o novo projeto de Constituição não apresenta grandes mudanças em relação à lei fundamental anterior. A parte essencial do poder continua nas mãos do presidente e o exército ainda é o pilar do sistema.
Desde a queda do também chefe militar Hosni Mubarak, após uma revolta popular no início de 2011 depois de quase 30 anos de poder absoluto, os egípcios se dirigiram em três ocasiões às urnas para se pronunciar sobre textos ou emendas constitucionais.