Agência France-Presse
postado em 14/01/2014 13:24
Londres - O Reino Unido recrutou um exército de aspirantes a historiador para publicar na internet a partir desta terça-feira (14/1) mais de 1,5 milhão de páginas de diários e relatórios dos oficiais britânicos destacados no front durante a Primeira Guerra Mundial.
Cobrindo todo o conflito, de 1914 a 1918, esses relatórios descrevem em detalhes a guerra vivida por unidades do exército britânico. Ao virar uma página, o internauta também pode descobrir testemunhos sobre as condições e estados de espírito e o dia a dia desses homens em guerra.
"Eu nunca passei e nunca imaginei que poderia passar 48 horas tão horríveis e apavorantes como aquelas que acabei de passar", relata o capitão James Patterson, nas trincheiras francesas, em 16 de setembro de 1914. "Enxames de alemães alcançaram o cume, onde estão recolhidos. Nossos canhões atingem o grupo a 1.800 jardas (1.645 metros), visão de horror pelos binóculos. Vários corpos de alemães desmembrados".
As páginas amareladas do diário de James Patterson fazem parte dos 2.000 arquivos publicados na internet nesta terça-feira pelos Arquivos Nacionais da Grã-Bretanha.
"Muitas pessoas acreditam que os diários de uma unidade militar se limitam a indicar o local, a data e as atividades dos soldados, mas há tantas histórias diferentes nesses relatórios", explicou William Spencer, especialista em arquivos militares. "Por meio da digitalização, podemos preservá-los para as gerações futuras, mas também torná-los disponíveis de uma forma diferente", acrescentou.
Os Arquivos Nacionais convocaram todos os voluntários motivados para ajudar a peneirar esses documentos como parte da "", lançada conjuntamente pelo Museu Imperial da Guerra em Londres e Zooniverse, um projeto cidadão. O objetivo é listar todos os nomes, datas e lugares nomeados nos cadernos para criar índices e facilitar a investigação nesses documentos.
O diário de James Patterson, cuidadosamente digitado, relata os movimentos do Primeiro Batalhão dos South Wales Borderers e acaba brutalmente em 25 de outubro de 1914 com a morte do capitão, morto três meses após o início da guerra. Ele cita cenas "indescritíveis": "Pobres coitados mortos estirados no chão em todas as direções", escreve. "Em todos os lugares encontramos a mesma pegada, dura, sombria e implacável da batalha e da guerra", acrescenta algumas páginas depois.
Ele também descreve o terror de atirar à noite, "nós realmente podemos matar um dos nossos, e depois das lesões que eu vi, estou convencido de que alguns foram feridos desta maneira".
Em seu diário ele também relata momentos mais leves entre os militares, como partidas de rúgbi e disputas de cabo-de-guerra, para ver qual equipe é a mais forte. "Partida um tanto desarticulada que termina em um empate". Outras páginas do diário, que ainda devem ser postadas, contam as façanhas do reverendo Tron, que era o capelão de vários batalhões e que desafiou os alemães.
"Trabalhando com cidadãos que amam a história, nós descobrimos muitas referências ao reverendo Tron e a meio milhão de nomes citados nesses diários", conta Luke Smith do Museu Imperial da Guerra. "Vamos descobrir a história do front ocidental da Primeira Guerra Mundial com um nível de detalhes sem precedentes", acrescentou.