Em um comunicado, Yaalon afirma que "não teve qualquer intenção de ofender o secretário de Estado e que apresentará suas desculpas caso o tenha ofendido com as declarações atribuídas ao ministro da Defesa".
Segundo o jornal israelense Yediot Aharonot, Yaalon afirmou em conversa com altos funcionários israelenses que "o secretário de Estado John Kerry chegou aqui determinado e animado por uma obsessão incompreensível e por uma espécie de messianismo, mas não pode nos ensinar nada sobre o conflito com os palestinos".
"A única coisa que pode nos salvar é Kerry ganhar o Prêmio Nobel (da Paz) e nos deixar tranquilos", ironizou o ministro israelense da Defesa.
Após a divulgação das declarações de Yaalon, o Departamento de Estado solicitou ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, um repúdio público aos comentários contra Kerry, e a presidência americana lamentou a situação.
"As declarações do ministro da Defesa israelense (...) são ofensivas e estão fora de lugar, especialmente tendo em conta tudo o que os Estados Unidos fazem para satisfazer as necessidades de Israel em matéria de segurança", afirmou o porta-voz da presidência, Jay Carney.
"O secretário Kerry e sua equipe não têm parado de trabalhar para promover uma paz segura para Israel em função de seu profundo compromisso" com o Estado hebreu.
"Duvidar das motivações de Kerry e deformar suas propostas não é algo que se espera de um ministro da Defesa de um país aliado", disse o porta-voz.
Mais cedo, Yaalon já havia tentado apaziguar os ânimos, publicando um primeiro comunicado, mas sem negar as controversas declarações que teriam vazado do encontro privado com representantes da Defesa dos EUA e de Israel.
"Os Estados Unidos são nosso mais importante amigo e aliado. Quando temos discordâncias entre nós, discutimos em privado", declarou, acrescentando que "vou continuar a ser responsável e manter firmemente a segurança do povo israelense".
Em discurso no Parlamento, o premier Benjamin Netanyahu também tentou amenizar o episódio, mas com indireta repreensão ao ministro da Defesa. "Às vezes, há divergências com os Estados Unidos, mas elas são sempre sobre o assunto em pauta, não sobre a pessoa", frisou Netanyahu.
Falcão do governo de Benjamin Netanyahu, Yaalon criticou mais especificamente as propostas americanas sobre a segurança na Cisjordânia, em particular, no Vale do Jordão, ao longo da fronteira com a Jordânia.
"O plano americano de segurança que nos foi apresentado não vale o papel sobre o qual ele foi escrito. Não garante nem a segurança, nem a paz", atacou.
Polêmica sobre as colônias
"No momento, somos os únicos a ter concedido alguma coisa - a libertação dos presos (palestinos) -, enquanto os palestinos não deram nada", completou Yaalon, um dos líderes do Likud (direita nacionalista) de Netanyahu.
[SAIBAMAIS]Israel se comprometeu a libertar em quatro fases um total de 104 prisioneiros palestinos para permitir a retomada das negociações com os palestinos. Nas primeiras fases, porém, as libertações foram acompanhadas de anúncios de construções nas colônias.
A ministra da Justiça israelense, Tzipi Livni, encarregada das negociações com os palestinos, criticou o colega da Defesa: "Você pode se opor às negociações de maneira argumentativa e responsável, sem comprometer as relações com nosso melhor amigo".
Uma outra polêmica também surgiu nesta terça depois de uma declaração do ministro israelense da Habitação, Uri Ariel. Ardoroso defensor da colonização, ele garantiu que os recentes projetos de construção anunciados por Israel foram pensados "em coordenação" com os Estados Unidos.
Um diplomata americano reiterou, porém, a condenação americana à colonização e disse que Kerry nunca "se encontrou, nem falou com Uri Ariel e, em consequência, não coordenou ou concordou em nada com ele".
Recentemente, autoridades israelenses de alto escalão também atacaram Kerry na imprensa local, sob anonimato. Um deles afirmou que o secretário americano desconhece o tema.
Apesar de sua determinação e energia e de ter feito dez viagens à região desde março de 2013, Kerry ainda não conseguiu convencer os dois lados do conflito a aderirem a seu plano de paz. Desde 2008, a relação entre Estados Unidos e Israel tem sido abalada por desentendimentos contínuos, seja sobre o programa nuclear iraniano, seja sobre o processo de paz no Oriente Médio.