Cidade do Kuwait - O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez nesta quarta-feira (15/1) um apelo de emergência para os civis sírios em uma reunião de países doadores no Kuwait, onde afirmou que a metade da população precisa de ajuda urgente. Esta reunião é realizada uma semana antes da conferência de paz Genebra II que deve ajudar, segundo espera Ban Ki-moon, a "deter a violência" e a estabelecer "um governo de transição dotado de poderes executivos".
[SAIBAMAIS]Desde o início da revolta pacífica contra o regime de Bashar al-Assad, em março de 2011, que se transformou em guerra civil, a violência na Síria deixou mais de 130.000 mortos e 2,4 milhões de refugiados. A oposição síria ainda não anunciou se comparecerá a esta conferência, na qual a Rússia e o enviado especial da Liga Árabe e da ONU para a Síria, Lakhadar Brahimi, desejam que Teerã participe, embora os Estados Unidos até o momento se oponham.
O chefe da diplomacia iraniana, Mohamad Javad Zarif, cujo país é o principal apoio internacional de Damasco, se encontra nesta quarta-feira na capital síria para se reunir com o presidente Assad, segundo uma fonte diplomática. Zarif afirmou na segunda-feira em Beirute que os Estados que buscam afastar seu país da conferência lamentarão. Em um discurso na abertura da reunião de doadores, Ban ressaltou que a situação havia se deteriorado dramaticamente desde a realização há um ano de uma reunião similar no Kuwait, que obteve promessas de ajuda no valor de 1,5 bilhão de dólares. "No ano passado, quando nos reunimos aqui quatro milhões de sírios precisavam de ajuda e havia 700 mil refugiados", declarou.
"Hoje, a metade da população síria, cerca de 9,3 milhões de pessoas, precisam de ajuda humanitária urgente, e quase a metade são crianças", disse. O Kuwait anunciou uma doação de 500 milhões de dólares na abertura da reunião, seguido pelos Estados Unidos, que se comprometeram a fornecer uma ajuda adicional de 380 milhões de dólares A Arábia Saudita e o Catar anunciaram cada um ajudas de 60 milhões de dólares. A ONU apresenta esta arrecadação de fundos como uma das mais importantes da história para uma situação de emergência.
A ONU disse necessitar de 2,3 bilhões de dólares para ajudar estas 9,3 milhões de pessoas na Síria, e outros 4,2 bilhões para os refugiados, cujo número deve quase duplicar a 4,1 milhões em 2014.
A União Europeia (UE) anunciou na terça-feira que aumentará em 165 milhões de euros sua ajuda humanitária às vítimas do conflito. A comissária europeia encarregada da Ajuda Humanitária, Kristalina Georgieva, convocou a comunidade internacional a seguir o exemplo da UE, o principal doador para a Síria com mais de 2 bilhões de euros fornecidos desde o início do conflito.
Organizações beneficentes do Kuwait e ONGs, em sua maioria islâmicas, prometeram, por sua vez, 400 milhões de dólares na terça-feira. A Anistia Internacional convocou a comunidade internacional a agir com rapidez para colocar fim ao sofrimento de milhares de civis, muitos dos quais estão ameaçados pela fome e por uma grave escassez de medicamentos. A Anistia também pediu que o governo sírio levante o bloqueio sobre a população civil nas zonas controladas pela rebelião.
Segundo a Human Rights Watch, os doadores devem incitar o governo sírio a autorizar a divisão da ajuda humanitária, especialmente nas zonas rebeldes atacadas pelo exército.
O presidente do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Peter Maurer, que classificou a situação na Síria de catastrófica, também convocou na segunda-feira as autoridades a deixarem a ajuda passar. "É a pior crise humanitária que tivemos em décadas", resumiu um funcionário do Programa Mundial de Alimentos (PMA) para a Síria.