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Governo mexicano negocia retirada de milícias após confrontos

Tierra Caliente tornou-se nas últimas semanas um campo de batalha para o confronto entre os Cavaleiros Templários e os paramilitares, milícias criadas há quase um ano por moradores de comunidades rurais

Apatzingán - O governo mexicano lançou nesta terça-feira (14/1) uma nova ofensiva para pacificar a região de Michoacán, tomando o controle do principal reduto de narcotraficantes e negociando a retirada das milícias de autodefesa, com as quais entrou em confronto.

[SAIBAMAIS]As Forças federais assumiram o controle dos municípios de Apatzingán (cerca de 120 mil habitantes), considerado o grande feudo do cartel narcotraficante Os Cavaleiros Templários, de Uruapan (315 mil) e Miigica (45 mil), e desarmaram policiais municipais que serão investigados por suposta colaboração com o crime. "Estes são locais estratégicos", porque "sabemos que os criminosos operavam a partir daqui", indicou o ministro do Interior, Miguel Angel Osorio Chong.



O centro histórico de Apatzingán, a principal cidade da conturbada região de Tierra Caliente, está sendo protegido por mais de 200 policiais equipados com metralhadoras e veículos blindados. Tierra Caliente tornou-se nas últimas semanas um campo de batalha para o confronto entre os Cavaleiros Templários e os paramilitares, milícias criadas há quase um ano por moradores de comunidades rurais desesperados para denunciar a impunidade dos crimes dos narcotraficantes.

As milícias de autodefesa começaram a assumir o controle de uma dúzia de municípios em Michoacán para expulsar os Templários. No último fim de semana, as milícias cercaram Apatzingán e se preparavam para a ofensiva, mas na segunda-feira o governo entrou em cena e exigiu que retornassem às suas comunidades. Na terça-feira, funcionários do governo, comandantes militares e o governador de Michoacán, Fausto Vallejo, reuniram-se com líderes das milícias de autodefesa. Após a reunião, um porta-voz paramilitar disse que se sente "mais tranquilo" com o envio de forças federais à região.

"Possivelmente não ocuparemos mais municípios", disse à TV Hipolito Mora, um dos dois porta-voz das milícias. Contudo, Estanislao Beltrán, outro porta-voz do movimento, declarou à AFP que não pode confirmar nenhum acordo enquanto não houver uma reunião entre os líderes. Sobre a reunião, Osorio Chong se limitou a dizer que "iniciou um diálogo com os milicianos para que cooperem com informações" sobre os narcotraficantes. Ao menos dois mortos em tentativa de desarmamento

Na segunda-feira à noite milhares de policiais e soldados foram enviados para Michoacán para desarmar os milicianos em pelo menos dois municípios, o que gerou vários confrontos. O mais grave ocorreu na comunidade de Cuatro Caminos na madrugada de terça-feira, quando um comboio de militares retirou as armas de uma milícia que havia assumido no fim de semana o controle da área. Moradores deixaram suas casas para exigir a devolução das armas.

Neste momento, "um soldado disparou" e matou quatro pessoas, incluindo um membro das milícias e uma menina de 11 anos, segundo Beltrán. Osorio Chong reconheceu apenas nesta quarta-feira que um soldado matou uma pessoa.

De acordo com a investigação da Comissão Nacional de Direitos Humanos, no incidente morreram dois membros das milícias. Jornalistas da AFP no local participaram do funeral de um dos jovens morto. "Estávamos reunidos porque pedíamos paz e segurança", recorda Juana Pérez, mãe do jovem morto Rodrigo Benítez, de 25 anos. Michoacán tornou-se o maior desafio de segurança para o presidente Enrique Peña Nieto (2012-2018).

Seu governo tem sido fortemente criticado por tolerar os avanços territoriais das milícias e permitir que usem armas não autorizadas por lei. Beltrán assegurou na terça-feira que o seu movimento "só irá depor as armas" quando os principais dirigentes dos Templários, liderados por Servando Gómez "La Tuta", forem presos.