Agência France-Presse
postado em 15/01/2014 13:26
Cidade do Kuwait - O secretário de Estado americano John Kerry afirmou nesta quarta-feira (15/1) que não deixará que certos comentários prejudiquem os esforços para alcançar um acordo de paz entre israelenses e palestinos, depois das declarações críticas que o ministro da Defesa israelense fez a seu respeito. "Tenho conversas regulares com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, e estamos muito comprometidos em fazer avançar o processo de paz", afirmou Kerry em coletiva de imprensa no Kuwait, onde participa em uma conferência sobre ajuda humanitária às vítimas da guerra na Síria.[SAIBAMAIS]"Não podemos deixar que alguns comentários socavem esse esforço e não pretendo fazê-lo", afirmou Kerry, em referência à conversa privada de Moshé Yalon citada na véspera pelo jornal Yediot Aharonot, quando comentou que Kerry não compreendia o conflito israelense-palestino. "O processo é difícil. É preciso tomar decisões difíceis. Vamos trabalhar com ambas as partes", afirmou ainda. "Depois de cinco meses de negociações, creio firmemente na perspectiva da paz", acrescentou. Após um forte ataque pessoal contra o chefe da diplomacia dos Estados Unidos, o ministro da Defesa de Israel, Moshe Yaalon, pediu desculpas por ter acusado Kerry de não entender o conflito na região.
Em um comunicado, Yaalon afirmou que "não teve qualquer intenção de ofender o secretário de Estado e que apresentará suas desculpas caso o tenha ofendido com as declarações atribuídas ao ministro da Defesa". "Israel e Estados Unidos têm como objetivo comum fazer avançar as discussões de paz entre israelenses e palestinos conduzidas por John Kerry. Apreciamos os múltiplos esforços realizados por Kerry para atingir isto".
Segundo o jornal israelense Yediot Aharonot, Yaalon afirmou, em conversa com altos funcionários israelenses, que "o secretário de Estado John Kerry chegou aqui determinado e animado por uma obsessão incompreensível e por uma espécie de messianismo, mas não pode nos ensinar nada sobre o conflito com os palestinos". "A única coisa que pode nos salvar é Kerry ganhar o Prêmio Nobel (da Paz) e nos deixar tranquilos", ironizou o ministro israelense da Defesa.
Após a divulgação das declarações de Yaalon, o Departamento de Estado solicitou ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, um repúdio público aos comentários contra Kerry, e a presidência americana lamentou a situação. Mais cedo, Yaalon já havia tentado apaziguar os ânimos, publicando um primeiro comunicado, mas sem negar as controversas declarações que teriam vazado do encontro privado com representantes da Defesa dos EUA e de Israel. Em discurso no Parlamento, o premier Benjamin Netanyahu também tentou amenizar o episódio, mas com indireta repreensão ao ministro da Defesa. "Às vezes, há divergências com os Estados Unidos, mas elas são sempre sobre o assunto em pauta, não sobre a pessoa", frisou Netanyahu.
Falcão do governo de Benjamin Netanyahu, Yaalon criticou mais especificamente as propostas americanas sobre a segurança na Cisjordânia, em particular, no Vale do Jordão, ao longo da fronteira com a Jordânia. "O plano americano de segurança que nos foi apresentado não vale o papel sobre o qual ele foi escrito. Não garante nem a segurança, nem a paz", atacou.