Agência France-Presse
postado em 16/01/2014 17:55
O Parlamento Europeu pediu nesta quinta-feira (16/1) uma reforma da "troika", formada pela UE, o BCE e o FMI, que constantemente é identificada pelas receitas de austeridade cega impostas durante a crise.Após mais de quatro anos de crise econômica gerada pela crise da dívida na zona do euro, "muita gente" na Europa considera que "as medidas da troika são impostas por estrangeiros", resumiu Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, que exigiu "mais transparência".
Criada em 2010, a troika reúne a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, os principais credores dos países da zona do euro sob assistência financeira, uma associação inédita no plano institucional.
Sua missão é definir as medidas fiscais e reformas estruturais que devem ser realizadas pelos governos em crise e vigiar seu estrito cumprimento, em troca de ajuda financeira, desferindo um duro golpe ao estado de bem-estar, agravando o desemprego e prolongando a saída da crise.
"Ninguém dita nada, as decisões são tomadas com os países beneficiários", se defendeu na segunda-feira o comissário europeu para Assuntos Econômicos, Olli Rehn, durante uma audiência no Parlamento.
"A troika não impõe, fixa objetivos, são os Estados que encontram a forma de alcançá-los", disse Klaus Regling, chefe do fundo de resgate da zona do euro, que lembrou que em Portugal, o Tribunal Constitucional derrubou algumas das medidas adotadas pelo governo para reduzir os gastos.
Contudo, apesar desta defesa, a margem de manobra dos governos em crise é estreita e a imagem da troika não é das melhores, em particular, porque não presta contas a ninguém.
"Não sabemos como as decisões são tomadas", criticou o eurodeputado socialista francês Liem Hoang-Ngoc, co-autor do relatório sobre a troika. "Quem decide que é preciso baixar os salários na Grécia? Você sabe? O Parlamento se pronunciou?", questionou.
A troika é regularmente acusada de ter agravado a crise ao pedir, ao mesmo tempo, que reduzam os gastos da administração, aumentem os impostos e diminuam os salários nos países sob assistência financeira.
Vários integrantes deste eclético grupo reconheceram no Parlamento erros nas previsões econômicas e diferenças provocadas pelas "diferentes filosofias" das três instituições que a compõem.
Segundo eles, a falta de transparência se deve às condições nas quais criou o dispositivo. "Estávamos frente à pior crise desde a Segunda Guerra Mundial, é preciso colocar sob este contexto o trabalho da troika", disse o ex-presidente do BCE, Jean-Claude Trichet.
Uma explicação que não convence o Parlamento, que abriu uma auditoria sobre o trabalho da troika com visitas e audiências. No final de janeiro uma delegação viajará à Grécia.
O Parlamento quer maior controle democrático da troika. Um relatório publicado nesta quinta-feira recomenda que a Comissão Europeia preste contas de suas decisões e seja interrogada regularmente pelo Parlamento. Também sugere estudar o funcionamento deste órgão híbrido e se questiona sobre a "participação obrigatória do FMI" nos planos de ajuda da zona do euro.
O papel do FMI já é tema de debate há vários meses devido a recorrentes tensões que tem com a Comissão. Alguns pedem que ele se afaste progressivamente.