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Assad considera se candidatar para novo mandato e desqualifica rebeldes

O presidente também ressaltou, na entrevista realizada no domingo em Damasco, que a guerra contra os rebeldes ainda será longa, e advertiu que uma derrota de seu regime semearia o caos no Oriente Médio

Agência France-Presse
postado em 20/01/2014 12:27
Damasco - O presidente sírio, Bashar al-Assad, afirmou que existem muitas chances de que tente a reeleição em junho, em uma entrevista concedida à AFP às vésperas da conferência de paz Genebra II, na qual a oposição busca seu afastamento do poder.

A conferência internacional sobre a Síria, que começará na quarta-feira (22/1) em Genebra, reunirá pela primeira vez representantes do poder e da oposição com o objetivo de buscar uma saída política a um conflito que, desde março de 2011, deixou mais de 130.000 mortos.

"Considero que nada me impede de apresentar minha candidatura (...) e, se a opinião pública pedir, não hesitarei um segundo em fazê-lo", declarou Assad, afastando a perspectiva de ceder o poder, como exige a oposição, que aceitou ir a Genebra com a condição de que seja iniciada uma transição política no país. "Em resumo, podemos dizer que há muitas chances de que apresente minha candidatura", explicou.

Assad, de 48 anos, chegou ao poder em julho de 2000 como sucessor de seu pai, Hafez al-Assad, falecido um mês antes, depois de ter dirigido o país por três décadas. Foi reeleito em 2007 para um mandato de sete anos. O chefe de Estado negou qualquer possibilidade de admitir em seu governo representantes da oposição, acusada por ele de ser uma criação dos serviços de inteligência estrangeiros.

"Todos sabem agora que algumas das partes (da oposição) surgiram durante a crise através dos serviços de inteligência estrangeiros, no Catar, na Arábia Saudita, na França, nos Estados Unidos ou em outros países. Se me sento com essa gente, isso significa que negocio com esses países", declarou.

Também ironizou sobre os líderes da oposição no exílio, que dizem "controlar 70% da Síria, mas não se atrevem a vir a estes 70% das zonas supostamente libertadas".

Os opositores "vêm até a fronteira durante meia hora para uma oportunidade de fotos e depois fogem. Como podem então ser membros do governo? Por acaso um ministro pode exercer suas funções do exterior? São ideias irrealistas, podemos considerá-las uma brincadeira", declarou.

Assad reivindicou avanços de suas tropas na guerra contra os terroristas, um termo com o qual desqualifica todos os insurgentes. "Podemos dizer que realizamos progressos na luta antiterrorista, mas isso não significa que a vitória seja iminente. Este tipo de batalha é complicado, não é fácil e exige muito tempo", admitiu.

"Mas quando uma pessoa defende o país, só tem uma alternativa: vencer", sentenciou Assad, que nunca reconheceu a existência de uma oposição a seu regime.

A rebelião começou de forma pacífica, mas enfrentou uma repressão violenta e foi tomando uma dimensão militar. O conflito se tornou mais complexo com os confrontos entre rebeldes e jihadistas, que até pouco tempo atrás estavam unidos na luta contra o regime.

Segundo Assad, "não se trata de uma revolta popular contra um regime que oprime seu povo, nem de uma revolução pela democracia e pela liberdade, como os meios de comunicação ocidentais apresentaram". "Uma revolução popular não pode durar três anos e fracassar, uma revolução não pode responder a agendas externas", declarou.

O chefe de Estado negou-se a realizar qualquer distinção entre grupos rebeldes e jihadistas. "Estamos diante de apenas um grupo, o das organizações terroristas extremistas, independentemente dos nomes dados a eles pelos meios de comunicação ocidentais", declarou. Para Assad, a conferência de Genebra II tem que fixar como prioridade a luta contra o terrorismo na Síria.

"A conferência de Genebra tem que alcançar resultados claros no que diz respeito à luta contra o terrorismo (...), esta seria a decisão, o resultado mais importante da conferência. Qualquer resultado político que não incluísse a luta contra o terrorismo não teria valor", afirmou. Também declarou que uma derrota de seu regime semearia o caos em toda a região. "Se a Síria perder a batalha, o caos se instalará no Oriente Médio", advertiu.

A conferência busca a aplicação de um acordo alcançado em Genebra em 2012, que prevê a formação de um governo de transição com plenos poderes, mas que não menciona o papel de Assad. O processo começou por iniciativa dos Estados Unidos, que apoiam a oposição, e da Rússia, aliada do regime sírio.

Assad destacou os acordos de cessar-fogo localizados que foram alcançados nestas últimas semanas pelos rebeldes e pelo regime na região de Damasco. "Estas iniciativas podem ser mais importantes que Genebra II (...), estas reconciliações podem limitar o derramamento de sangue", disse.

O presidente, que vive em Damasco com sua esposa e seus três filhos, afirmou que nos três anos de conflito nunca pensou em fugir do país. "Fugir não é uma opção nestes casos. Devo estar na linha de frente dos defensores da pátria. Este era o único cenário desde o primeiro dia da crise", declarou.

Ele afirmou que suas tropas não cometeram nenhum massacre desde o início da guerra, ao mesmo tempo em que acusou os rebeldes de realizarem massacres indiscriminados de civis.

"O Estado sírio sempre defende os civis. As fotos e os vídeos confirmam que os autores dos massacres são os terroristas. Não há nenhum documento que demonstre que o governo sírio tenha cometido algum desde o início da crise", sustentou.

A ONU e as organizações internacionais acusaram tanto o regime quanto as forças rebeldes de terem realizado todo tipo de atrocidades.



Assad sustentou que "o exército não bombardeia regiões, mas os locais onde se encontram os terroristas", embora tenha admitido a possível existência de vítimas civis. "Infelizmente isso ocorre em todas as guerras. Não há uma guerra limpa, sem vítimas inocentes", declarou.

Assad também justificou a participação de combatentes do Hezbollah libanês junto as suas tropas, como resposta à presença de combatentes de dezenas de países contrários ao seu regime. Considerou, no entanto, que "a partida de todos (os combatentes) não sírios é um dos elementos da solução" do conflito.

Revelou, por outro lado, ter rejeitado pedidos de colaboração de serviços ocidentais que buscavam cooperar com Damasco em matéria de luta antiterrorista. "Nossa resposta foi que a colaboração em matéria de segurança é indissociável da colaboração política e que esta não pode se dar com países que adotam posições políticas hostis à Síria", declarou.

Assad classificou a França de país vassalo do Catar e da Arábia Saudita, em troca de seus petrodólares. A entrevista, que durou 45 minutos, foi realizada na biblioteca do Palácio do Povo. As três primeiras perguntas e respostas foram filmadas pelos serviços da presidência. O fotógrafo da AFP foi autorizado a tirar fotografias.

Ao ser interrogado sobre o que havia mudado em sua vida desde o início do conflito, Assad respondeu: "Vivemos como antes". No entanto, contou que demora a encontrar uma boa resposta quando seus filhos, assim como qualquer criança síria, perguntam a ele: "por que há tanta gente má?". "Não é fácil explicar estas coisas às crianças", comentou.

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