Agência France-Presse
postado em 20/01/2014 14:18
Istambul - A conferência de paz de Genebra II estava em perigo nesta segunda-feira (20/1) depois que a ONU convidou o Irã, provocando a indignação da oposição síria, que ameaçou boicotá-la, e de Bashar al-Assad afirmar que não descarta se candidatar a um novo mandato.Em uma entrevista, o presidente sírio anunciou que há "muitas possibilidades" de que seja novamente candidato à presidência neste ano e previu uma longa guerra contra os rebeldes.
Às vésperas da abertura em Montreux (Suíça) da conferência de paz sobre o futuro da Síria, e num momento em que a oposição ao regime, muito dividida, decidiu enviar uma delegação à reunião, o anúncio feito no domingo pelo secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, sobre a participação do Irã mudou totalmente a situação.
A Coalizão Nacional Síria, da oposição, anunciou que não comparecerá às negociações de paz se o convite para o Irã participar não for retirado até a noite desta segunda-feira, declarou à AFP um líder desta coalizão.
"Antes das 19h00 GMT (17h00 de Brasília) deve ser confirmado que o Irã não está convidado à conferência, ou não compareceremos" a ela, declarou Hadi AlBahra, que insistiu que a participação da República Islâmica nestas negociações era algo impossível.
A Arábia Saudita também rejeitou nesta segunda-feira a participação do Irã, já que o país não aceita a instauração de um governo de transição em Damasco.
"Todo convite à conferência de Genebra deve estar vinculado à aceitação (...) de um governo de transição" na Síria, declarou um porta-voz oficial de Riad.
"Ao não adotar publicamente esta posição, o Irã se encontra desqualificado para participar da conferência", acrescentou.
Pouco antes, Ban Ki-moon havia informado sobre o convite feito ao Irã para participar da reunião após intensas discussões com o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohamad Javad Zarif.
A iniciativa do secretário-geral parece ter surpreendido os países ocidentais, principalmente os Estados Unidos, que pediram a retirada do convite feito à República Islâmica.
O Irã, aliado do regime Sírio, "nunca apoiou o comunicado de Genebra I", que pede um governo de transição na Síria, razão pela qual "esperamos que o convite seja retirado", afirmou um funcionário de alto escalão do Departamento de Estado.
França e Grã-Bretanha também já haviam expressado preocupação com o convite, pedindo rapidamente que o Irã aceitasse a ideia de um governo de transição na Síria, um objetivo decidido em junho de 2012 na conferência Genebra I.
A participação em Genebra II está condicionada à aceitação explícita do objetivo que figura na carta de convite do secretário geral das Nações Unidas, afirmou o chanceler francês, Laurent Fabius.
Em Londres, o Ministério britânico das Relações Exteriores manifestou uma posição similar.
Por outro lado, o ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov alertou a oposição síria e aos ocidentais que a ausência do Irã na conferência seria um "erro imperdoável".
Segundo informou à AFP uma fonte diplomática ocidental, que não quis se identificar, a presença do Irã "é uma decisão catastrófica, tanto para a própria conferência como para a atual direção da Coalizão, que assumiu enormes riscos ao decidir ir a Genebra".
Assad, decidido a continuar dirigindo o país
As negociações entre o governo do presidente Bashar al-Assad e a oposição, dirigida por Ahmad Jarba, estão previstas a partir de sexta-feira em Genebra.
[SAIBAMAIS]Contudo, os objetivos dos dois lados parecem irreconciliáveis, já que a oposição insiste que seu único objetivo é se livrar de Assad.
Já o presidente sírio se mostra decidido a permanecer no poder e desqualificou os rebeldes.
"Considero que nada me impede de apresentar minha candidatura [...] e se a opinião pública pedir, não hesitarei um segundo a fazê-lo", declarou Assad na entrevista à AFP, durante a qual se mostrou sorridente e tranquilo.
"A conferência de Genebra tem que alcançar resultados claros em relação à luta contra o terrorismo [...] essa seria a decisão, o resultado mais importante da conferência", completou o presidente, em referência aos rebeldes.