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Habitantes de Damasco rezam por 'milagre' em conferência de Genebra II

Encontro na Suíça está marcado para começar amanhã

Agência France-Presse
postado em 21/01/2014 16:02
Marjeh Square, em Damasco
Os habitantes de Damasco, cansados da guerra que os asfixiou economicamente, esperam por "um milagre" na conferência de paz Genebra II que leve ao fim dos combates.

Um dia antes do início previsto da conferência na Suíça, na qual se procura possibilitar um diálogo entre o regime sírio e a oposição, os bombardeios do Exército contra os subúrbios controlados por insurgentes e os disparos de morteiros por parte dos rebeldes em direção à capital se tornaram menos intensos.

Nas ruas do lado antigo de Damasco e em outros bairros da capital há uma aparência de normalidade. Os habitantes se ocupam de seus assuntos, jovens tiram fotos diante da Mesquita dos Omíadas e homens vendem lembranças com fotos do presidente Bashar al-Assad, mas o cansaço fica estampado nos rostos quando são perguntados sobre uma possível solução para um conflito que deixou cerca de 130 mil mortos, segundo uma ONG.

"Genebra? Tem que acontecer um milagre para que as coisas saiam bem", lamenta Akram, vendedor de verduras em Bab Tuma, um bairro histórico da capital síria. "Ninguém vai fazer concessões", acrescenta, referindo-se ao regime de Assad e à oposição.

Apesar disso, Akram se contentaria com uma trégua: "O que queremos, antes de tudo, é segurança. Se não houver um cessar-fogo, nunca sairemos disto", considera. "Que conversem durante meses, mas eu quero dormir em paz", afirma.

"Antes, exportávamos trigo e farinha. Agora, importamos esses produtos do Líbano e do Irã", acrescenta.



Maher, estudante de Medicina, chegou há cinco meses de Raqa, cidade do norte em poder de jihadistas. "Não tenho muita esperança", diz, enquanto come um waffle junto com sua noiva, deslocada de Homs (centro). Genebra II "vai terminar sem resultado algum, ainda mais se o Ocidente tentar impor uma solução", acrescenta esse jovem sunita de 24 anos.

Sua noiva, Maha, é mais pessimista. "A Síria nunca voltará a ser como antes. Acho que não haverá reconciliação porque houve sofrimento demais", acrescenta.

Omar, um padeiro em Bab Tuma, está feliz por ter deixado há um ano o campo palestino de Yarmouk, em Damasco, hoje assediado pelo Exército sírio. "Estamos cansados. Precisamos de um verdadeiro milagre em Genebra", afirma o ex-contador de 31 anos.

"Ambas as partes têm que deixar o ego de lado. Do contrário, a paz é impossível", assegura ele, enquanto prepara ;mankoush;, um tipo de pão sírio.

Há aqueles que seguem os argumentos do regime ou criticam a oposição.

"Esperamos a vitória para nós e nosso presidente", declara um homem em Maryé, bairro do centro da capital. Nessa área, centenas de famílias se refugiaram em hotéis baratos.

"Tudo isto vai acabar quando os terroristas saírem do país", declara Amjdad, um idoso deslocado de Yarmouk, referindo-se aos rebeldes.

"Com quem nossos governantes vão dialogar?", pergunta Malek, no bairro popular de Sarouya, perto de Maryé. "A coalizão não representa ninguém", afirma.

Já no bairro de classe média alta de Rawda, Hussam, um estudante de dramaturgia diz ter tomado uma decisão: "Se eu sentir que nada mudou depois da conferência, vou deixar a Síria".

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