Agência France-Presse
postado em 24/01/2014 07:24
Kiev - Os manifestantes ucranianos pró-europeus passaram à ofensiva nesta sexta-feira (23/1) ocupando um ministério e levantando outra barricada em Kiev, após o fracasso das negociações entre o presidente e os líderes da oposição para colocar fim à crise. Militantes do movimento opositor Spilna Sprava (Causa Comum) tomaram de assalto na noite de quinta-feira o ministério da Agricultura, a 100 metros da Praça da Independência, também chamada de Maidan, centro do movimento de contestação há mais de dois meses.
Após as negociações da noite de quinta-feira entre o presidente Viktor Yanukovytch e os líderes da oposição, que terminaram com modestas concessões, "ficou claro que devemos preparar nós mesmos a ofensiva prometida" pelos chefes da oposição, escreveu na noite de quinta-feira em sua conta no Facebook Olexander Danyliuk, líder do movimento. "Já começamos. Os militantes de Spilna Sprava acabam de ocupar o edifício do ministério da Agricultura", acrescentou.
Em Kiev, cujo centro está ocupado desde o fim de novembro pelos manifestantes pró-europeus depois que o governo desistiu de um acordo com a União Europeia (UE) e optou por uma aproximação com a Rússia, foram registrados violentos confrontos entre manifestantes radicais e as forças de ordem desde domingo que deixaram cinco mortos. A França convocará nesta sexta-feira o embaixador da Ucrânia para transmitir a ele sua condenação pela repressão das manifestações em Kiev, anunciou o ministro das Relações Exteriores, Laurent Fabius, acrescentando que estava preocupado e indignado.
A oposição reconheceu sua decepção na quinta-feira depois das negociações com Yanukovytch e convocou os manifestantes a fazer todo o possível para evitar uma nova onda de violência. "Nosso movimento será apenas pacífico. Nós permanecemos em guarda, não daremos um passo atrás", sustentou Arseni Yatseniuk, líder do partido da opositora detida Yulia Timoshenko, diante de dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça da Independência.
Não foram registrados confrontos depois do anúncio deste fracasso e a calma persistia na manhã desta sexta-feira (23) na rua Grushevski, onde foram registrados violentos confrontos nos dias anteriores. Os manifestantes, obedecendo às instruções de seus líderes, trabalharam durante toda a noite para ampliar os limites do acampamento entrincheirado levantado ao redor da praça há dois meses.
Em poucos minutos, ergueram uma nova barricada com sacos de neve de três metros de altura na rua Institutska. O boxeador Vitali Klitschko, um dos líderes da oposição, convocou os manifestantes na noite de quinta-feira a "ampliar o território da Maidan enquanto o poder não nos escutar". Klitschko destacou que a única concessão prometida na quinta-feira pelo presidente foi "uma promessa de libertar todos os militantes e de suspender a pressão se não houver confronto".
"Várias cidades do oeste se rebelaram hoje. Haverá mais amanhã. Nós devemos fazer o possível para que toda a Ucrânia se rebele", declarou ante os manifestantes. Em Lviv, reduto dos nacionalistas pró-europeus no oeste da Ucrânia, onde os manifestantes ocuparam o conselho regional na quinta-feira, foram erguidas barricadas nesta sexta-feira e foi instalado um palco no centro da cidade.
Milhares de manifestantes ocuparam as administrações dos governos de várias regiões de língua ucraniana que apoiam o movimento de contestação. Além de Lviv, onde os manifestantes impedem que o governador nomeado pelo chefe de Estado trabalhe, foram constatadas ocupações em Ternopil, Rivne, Jmelnitsky (oeste) e Cherkassy (centro). Em nível diplomático, foram feitos vários apelos por diálogo na quinta-feira.
A UE obteve garantias de que o governo ucraniano não decretaria estado de emergência e anunciou uma visita de Catherine Ashton, chefe da diplomacia da comunidade, na próxima semana. O vice-presidente americano, Joe Biden, advertiu Yanukovytch que, se a violência continuar, haverá consequências nas relações bilaterais. A Rússia, que concedeu à Ucrânia um plano de resgate financeiro de 15 bilhões de dólares, prometeu que não irá intervir nos assuntos internos da Ucrânia.