Rodrigo Craveiro
postado em 25/01/2014 06:50
A data e um dos alvos não podiam ser mais simbólicos. Na véspera do terceiro aniversário da revolução que derrubou o ditador Hosni Mubarak, quatro explosões mataram seis pessoas e feriram cerca de 100, destruíram um tesouro cultural de valor inestimável e intensificaram a polarização político-religiosa na capital do Egito. Por volta das 6h30 (2h30 em Brasília), o empresário Tarek Sobh, 37 anos, escutou o barulho da primeira e mais poderosa detonação. ;Foi um som muito intenso. Lembrava um avião a jato rompendo a barreira do som;, contou ao Correio, por meio da internet, o morador de Heliópolis ; subúrbio a 30 minutos do centro do Cairo.Uma picape-bompa, com dois passageiros, estacionada junto à barreira de segurança, tinha acabado de ir pelos ares. A onda expansiva e os destroços abriram uma cratera na rua e danificaram três dos oito andares do QG da polícia, no bairro de Abdeen. Quatro policiais foram mortos no ataque. Menos de três horas depois, o designer gráfico Adnan Omar Sedky, 33 anos, foi surpreendido por outro estrondo, dessa vez na estação do metrô de Dokki, a 300m de sua casa. Um policial morreu. ;Vivemos uma guerra. Ela não vai ser curta;, desabafou Adnan à reportagem. Duas outras explosões ocorreram do lado de fora de um cinema, matando uma pessoa, e diante de uma delegacia. Outras 14 pessoas morreram durante confrontos entre simpatizantes da Irmandade Muçulmana e as forças de segurança.
O governo militar chefiado pelo general Abdel Fattah el-Sisi culpou a Irmandade, apesar de os atentados levarem a marca do Ansar Bait Al-Maqdis ; grupo islâmico baseado na Península do Sinai e responsável por emboscadas contra policiais e soldados. Em entrevista ao Correio, em 17 de agosto passado, Gehad El-Haddad, porta-voz da organização, previu o ;caos; e avisou que o Egito se tornaria ;ingovernável;. No entanto, Islam Abdel-Rahman, membro do Comitê de Assuntos Externos do Partido Liberdade e Justiça e militante da Irmandade, desqualificou as acusações.