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Em Genebra, inimigos sírios falam sobre o futuro da cidade de Homs

A oposição avaliou que o pedido feito a Damasco de autorizar a entrada de ajuda humanitária é um "teste" da seriedade do regime nas negociações que ocorrem em Genebra até o final da próxima semana

Agência France-Presse
postado em 25/01/2014 19:37
Genebra - As delegações do regime sírio e da oposição discutiram este sábado a situação na cidade de Homs e a possível entrada de ajuda humanitária, uma primeira "medida de confiança" pedida pela oposição.

Os dois lados inimigos, reunidos pelo mediador das Nações Unidas, Lakhdar Brahimi, aceitaram discutir neste domingo, segundo dia de negociações, o problema de milhares de prisioneiros, desaparecidos e civis sequestrados na Síria desde que o movimento de contestação em março de 2011 tornou-se uma violenta guerra.

Na primeira rodada de negociações, uma curta introdução do emissário da ONU e duas horas de discussão na tarde deste sábado, Lakhdar Brahimi afirmou que se tratava de "um bom começo", e reconheceu: "não tivemos muitos avanços".

"Nós falamos muito tempo sobre a situação da cidade velha de Homs", disse Brahimi. E "nós esperamos que ao final, comboios de ajuda, com comida e medicamentos, possam entrar no local", acrescentou.

Cidade industrial, situada entre Damasco e o norte da Síria, Homs é uma cidade estratégica tanto para o regime quanto para a oposição. Frequentemente considerada como "coração" da contestação, a cidade pagou caro pela oposição ao presidente Bashar al-Assad. Os bairros rebeldes são sitiados desde junho de 2012 pelo exército que bombardeia o local regularmente.

[SAIBAMAIS]

Milhares de sírios presos nestes bairros vivem em condições precárias, sem acesso a comida e medicamentos. "A situação é catastrófica na cidade de Homs", indicou à AFP o chefe das operações para o Oriente Médio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Robert Mardini. A Cruz Vermelha, segundo ele, não pode entrar na cidade velha de Homs desde novembro de 2012 e a situação é "catastrófica".

A oposição avaliou que o pedido feito a Damasco de autorizar a entrada de ajuda humanitária é um "teste" da seriedade do regime nas negociações que ocorrem em Genebra até o final da próxima semana.

"Homs é um teste: se o regime não abrir passagem para pessoas que morrem de fome, isso quer dizer que o regime quer uma solução militar e não uma solução política", disse Louai Safi, porta-voz da Coalizão de oposição e membro da delegação em Genebra. A questão dos prisioneiros deve estar na pauta das discussões deste domingo.

"Muitos perderam sua liberdade, são prisioneiros, sequestrados, as freiras levadas em Maloula, os dois padres, centenas, talvez milhares de pessoas que desapareceram, que foram talvez sequestradas", disse ele, fazendo alusão aos desaparecidos na Síria em zonas rebeldes e em zonas controladas pelo regime.

Ao falar sobre o ritmo e o tom das negociações, Brahimi se mostrou prudente, estimando que as conversas avançam "a passos minúsculos". Até o momento, os negociadores se sentaram frente a frente, mas não se falaram diretamente. Eles negociam com o intermédio de Brahimi.

"Temos sentimentos confusos", confessou Anas al-Abdé, um dos negociadores da oposição síria, na saída da reunião. "Não foi fácil para nós nos sentarmos com a delegação que representa os assassinos de Damasco", disse.

Pela primeira vez o regime sírio compartilhava do mesmo sentimento que seus detratores. "Talvez nós tenhamos que ter engolido nosso rancor, mas nós estamos aqui, pra valer, temos instruções muito claras", declarou à AFP o chefe das negociações do regime, Bachar al-Jaafari.

Genebra I na pauta de reuniões

As negociações deveriam ter começado nesta sexta-feira, mas a ONU e os sírios perderam 24 horas, depois que a oposição se recusou a sentar-se à mesma mesa que o regime enquanto o governo não reconhecesse o princípio de um "órgão" de transição conforme propõe o texto adotado em 2012 durante a Conferência de Genebra I.

Regime e oposição discordam sobre a interpretação de Genebra I: os opositores de Bashar al-Assad reclamam que a adoção deste princípio implicaria necessariamente a saída do presidente do poder, cenário veementemente rejeitado por Damasco, que propõe um governo de união.

A resposta do governo sírio à recusa da oposição de se sentar à mesma mesa que o ministro Muallem não demorou a chegar. O governo sírio ameaçou fazer as malas e partir, acusando seus detratores de falta de seriedade.

Brahimi conseguiu convenceu as delegações do regime de Bachar al-Assad e da oposição a se sentarem à mesma mesa de negociações neste sábado.

O primeiro ciclo de negociações deve acontecer "até o fim da semana que vem". Na opinião de diplomatas e observadores, as chances de sucesso das negociações são mínimas enquanto houver um grande abismo entre oposição e partidários do regime.

Uma parte da equação diz respeito também à capacidade dos "padrinhos" dos dois lados - Estados Unidos e Rússia - de fazerem manobras políticas nos bastidores.

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Na Síria, o exército fez ataques aéreos em zonas rebeldes das cidades de Damasco e Aleppo - informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).

Combates também foram registrados nos arredores do campo palestino de Yarmuk, no sul de Damasco, majoritariamente controlado pelos combatentes rebeldes, e sitiado pelo exército sírio.

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