O vice-primeiro-ministro havia sido promovido pouco antes a marechal, a mais alta patente do Exército egípcio. Sissi está no comando do Egito desde a destituição e prisão de Morsy, em julho.
Segundo a agência de notícias Sana, Sissi, de 59 anos, "deve anunciar a sua decisão definitiva ao povo nas próximas horas".
Além disso, é esperado o anúncio de seu afastamento do Exército, já que a Constituição adotada em meados de janeiro do ano passado determina que o presidente deve ser, obrigatoriamente, um civil.
No domingo, o chefe de Estado interino, Adly Mansur, já havia indicado que a eleição presidencial seria organizada junto com as legislativas, daqui três meses, em um calendário que parece feito sob medida para o marechal.
Nesta segunda, coube ao presidente Mansur, instaurado pelo Exército, no início de julho, anunciar a promoção de Sissi a marechal, a mais alta patente do Exército egípcio. Há várias semanas, pessoas ligadas ao marechal, que também é ministro da Defesa e vice-primeiro-ministro, não escondiam a intenção de Sissi de se candidatar. Em relação a isso, um funcionário do governo explicou à AFP que a patente de marechal "poderia ser uma honraria concedida a Sissi antes de deixar o Exército".
;Mito do salvador;
Para além dos imperativos constitucionais, para Karim Bitar, especialista em Oriente Médio, a promoção a marechal é "mais um passo na construção política e midiática do mito do salvador, o herói e o homem providencial". Além disso, o diretor de pesquisas do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas (IRIS) nota que essa distinção, extremamente rara, acontece no momento em que as autoridades, lideradas de fato pelo Exército, reprimem com um banho de sangue os islamitas partidários de Mursi.
"Normalmente, essa distinção é concedida só depois de uma grande vitória militar. Isso significa que consideram a repressão em curso uma ;guerra contra o terrorismo; e que vale como um triunfo no campo de batalha", afirma.
Repressão implacável
Em sete meses, mais de 1.000 manifestantes pró-Morsy foram mortos na repressão implacável dos policiais e soldados, enquanto milhares de islamitas foram presos, incluindo quase todos os líderes da Irmandade Muçulmana, movimento ao qual pertence Morsy, o único presidente democraticamente eleito do Egito.
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A partir de então, os líderes do movimento islâmico também estão sendo julgados em processos nos quais podem ser condenados à pena de morte. No final de dezembro, a Irmandade foi declarada uma "organização terrorista", após um ataque contra a polícia reivindicado por um grupo jihadista do Sinai, sem ligação conhecida com o movimento.
Essa península desértica se tornou desde a destituição de Morsy um cenário quase diário de ataques contra as forças de ordem, que perderam dezenas de homens em sete meses. No sábado, o mesmo grupo jihadista, o Ansar Beit al-Maqdess, que diz se inspirar na Al-Qaeda, afirmou ter derrubado um helicóptero do Exército.
E os ataques, incluindo com carros-bomba, chegaram a atingir o Cairo, abalado por cinco explosões no último fim de semana. A imprensa, que apoia o Exército e a Polícia, reitera a retórica da "guerra contra o terrorismo", e no sábado, em ocasião do terceiro aniversário da revolta que derrubou Hosni Mubarak do poder, milhares de egípcios se reuniram na simbólica praça Tahrir em favor de Sissi.
"Eu compreendo que as pessoas queiram Sissi como candidato. Elas temem pela sua segurança e exigem um homem forte", disse Alfred Raouf, do partido liberal Al-Dostour, que apoiou a destituição de Morsy. Mas "eu teria preferido uma eleição presidencial entre candidatos civis para estabelecer uma democracia civil".
Pois "o (futuro) presidente vai anunciar suas crenças e orientações políticas e os partidos políticos mais próximos irão se beneficiar" nas eleições parlamentares, ressaltou o cientista político Gamal Abdel Gawad Soltan.