Agência France-Presse
postado em 29/01/2014 18:20
O mediador da ONU para a Síria considerou nesta quarta-feira (29/1) que o gelo está prestes a se quebrar em Genebra entre representantes da oposição e do governo sírios, com uns falando de "um passo adiante" e outros, de discussões "positivas".Lakhdar Brahimi admitiu que não espera nada de substancial até o final desta sessão de discussões, na sexta-feira, mas disse que não está "decepcionado" depois de ter contribuído para estabelecer este princípio de diálogo depois de quase três anos de guerra.
"Para falar francamente, eu não espero conseguir algo de substancial. Espero que a segunda sessão seja mais estruturada e mais produtiva do que a primeira", declarou Brahimi nesta quarta à imprensa.
Após cinco dias de negociações iniciadas no sábado, esta sessão deve ser concluída na sexta com a fixação da data das próximas negociações, provavelmente uma semana depois.
"Não estou decepcionado, não esperava um resultado, e sim que conversássemos ( ...) Estou muito satisfeito porque, apesar de tudo, estamos negociando. O gelo está se quebrando, lentamente, mas está se quebrando", ressaltou o diplomata.
Regime e oposição se reúnem pela primeira vez desde o início da guerra, há cerca de três anos. O conflito continua a causar vítimas na Síria. Nesta quarta, 13 pessoas morreram em ataques da aviação do regime, que despejou barris de explosivos sobre os bairros rebeldes de Aleppo, no norte.
Ainda existe um grande fosso
Segundo a oposição, o regime "finalmente aceitou falar no quadro" de Genebra I, documento assinado em junho de 2012 pelas grandes potências e que prevê a criação de uma autoridade governamental de transição na Síria.
"Acredito que obtivemos alguns progressos hoje, colocando as negociações no bom caminho", considerou um integrante da delegação opositora, Louai Safi.
"Mas ainda há um grande fosso entre nós e o regime sobre o que devemos discutir", acrescentou.
A oposição quer se concentrar na formação de uma autoridade governamental de transição, como estabelece a resolução 2118 do Conselho de Segurança, endossando o comunicado de Genebra I. Essa autoridade ficaria encarregada de restabelecer a paz.
A delegação do regime confirmou que as discussões "positivas de hoje" foram relacionadas ao acordo de Genebra I.
Mas, para ela, as negociações estão concentradas no fim da violência na Síria e na luta contra o "terrorismo", uma prioridade para o regime desde o início das discussões. Damasco classifica os rebeldes como "terroristas" financiados pelo exterior.
Bouthaina Chaabane, conselheiro político do presidente Bashar al-Assad, disse: "A única diferença entre nós e eles, e ela é grande, é que nós queremos discutir Genebra I ponto a ponto, a começar pelo primeiro ponto", relativo ao fim da violência.
O regime de Damasco nunca reconheceu a onda de contestação que varreu o país no âmbito da Primavera Árabe de 2011. As manifestações começaram pacíficas, mas se transformaram em uma guerra devido à repressão das forças do regime. Mais de 130.000 pessoas morreram desde março de 2011.
Quanto às medidas destinadas a estabelecer um ambiente de confiança entre as partes, principalmente o envio de um comboio com ajuda humanitária para a população cercada pelo Exército nos bairros rebeldes de Homs (centro), não houve avanço desde o início da semana. As discussões continuam, limitou-se a afirmar Brahimi. O fornecimento de ajuda não acontece por causa da ausência de uma autorização das autoridades às organizações humanitárias.
Enquanto isso, a Síria retirou de seu território menos de 5% de seu arsenal químico mais perigoso, indicaram nesta quarta-feira fontes ligadas à Organização para a Proibição das Armas Químicas (Opaq).
Apenas dois carregamentos de agentes químicos deixaram a Síria, nos dias 7 e 27 de janeiro, pelo porto de Lattakia para serem destruídos no mar.