Agência France-Presse
postado em 03/02/2014 11:19
A França, geralmente criticada por sua passividade ante o genocídio de 1994 em Ruanda, julga a partir desta terça-feira (3/2) e pela primeira vez um ruandês acusado de cumplicidade nesta tragédia que deixou cerca de 800 mil mortos.Pascal Simbikangwa, de 54 anos, comparecerá ante o tribunal criminal de Paris, acusado de ter "contribuído, com conhecimento de causa, com a prática em massa e sistemática de execuções sumárias e outros atos desumanos, assim como genocídio". Ele pode pegar prisão perpétua neste julgamento, que deverá durar de seis a oito meses.
Apesar de Simbikangwa, um ex-capitão do exército ruandês, paraplégico desde 1986, admitir sua proximidade com o regime do presidente hutu Juvenal Habyarimana, cujo assassinato em 6 de abril de 1994 foi o detonador do genocídio, ele nega ter organizado ou participado nas matanças. O ex-oficial foi inicialmente indiciado por genocídio e crimes contra a humanidade, mas a instrução revisou a acusação e a limitou à cumplicidade.
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Outra acusação por prática de torturas prescreveu. Segundo a defesa, o julgamento é basicamente político e diplomático, principalmente levando em conta a aproximação da França e Ruanda depois de três anos de ruptura das relações diplomáticas (2006-2009). A França foi acusada pelas autoridades ruandesas tutsis de ter apoiado os genocidas hutus. Simbikangwa é acusado de ter organizado em Kigali e em sua região natal de Gisenyi bloqueios nos quais eram capturados e executados os tutsis, e de ter dado ordens e entregado armas aos que os prendiam.
A acusação de participação direta na matança foi abandonada pelos juízes de instrução, que consideraram que os testemunhos apresentados eram contraditórios. Pascal Simbikangwa foi detido em outubro de 2008 na igreja francesa de Mayotte, na qual vivia sob um nome falso.