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Secretário de Estado dos EUA é duramente criticado pela direita israelense

Kerry deve apresentar nas próximas semanas suas propostas de paz, que suscitam uma profunda preocupação na direita israelense

Agência France-Presse
postado em 03/02/2014 18:20
John Kerry, secretário de Estado americano
O secretário de Estado americano, John Kerry, voltou a ser duramente criticado pelos dirigentes israelenses, que o acusam de justificar as ameaças de boicote internacional contra Israel para obter concessões nas negociações com os palestinos.

No entanto, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, que criticou na véspera os comentários de Kerry sobre o boicote, tentou acalmar os ânimos nesta segunda-feira, afirmando que "a melhor maneira de esclarecer os mal-entendidos e de expressar opiniões diferentes é discutir os temas em profundidade e não recorrer a ataques pessoais".

"Acreditamos que os Estados Unidos vão seguir se opondo ativamente aos boicotes contra Israel", declarou Netanyahu no Congresso, indicando ter recebido no domingo uma "importante declaração" de Kerry sobre sua oposição ao boicote contra os israelenses.

O secretário de Estado americano deve apresentar nas próximas semanas suas propostas de paz, que suscitam uma profunda preocupação na direita israelense. Isso explicaria tais críticas severas.

"É lamentável constatar que a administração americana não compreende a realidade do Oriente Médio e exerce pressões no lado equivocado no conflito israelense-palestino", afirmou o ministro da Defesa Interna, Gilad Erdan, ligado a Netanyahu.

Seu colega da pasta da Habitação, Uri Ariel, um colono, acusou, por sua vez, Kerry de não ser "um mediador honesto quando fala de ameaça de boicote".

Em uma conferência sobre segurança no sábado, em Munique, o chefe da diplomacia americana destacou as consequências para a economia israelense de um movimento de boicote internacional contra Israel.



"Há uma campanha crescente para deslegitimar Israel. As pessoas estão muito receptivas. Ouvimos falar de boicotes e de outros tipos de coisas. Tudo isto ajustará a situação?", questionou Kerry, antes de repetir que o ;status quo; no conflito entre israelenses e palestinos é "insuportável" e "ilusório".

Kerry também fez referência ao risco de que um boicote contra Israel não ajude em seus esforços para alcançar um acordo de paz.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, criticou no domingo as declarações do secretário de Estado americano.

"As tentativas de boicotar o Estado de Israel são imorais e injustificáveis. Não alcançarão seus objetivos", afirmou Netanyahu no conselho de ministros semanal.

"Em primeiro lugar, essas tentativas permitem aos dirigentes palestinos permanecer em suas posições intransigentes e, desta maneira, afastam a paz", criticou Netanyahu.

"Em segundo lugar, nenhuma pressão fará com que abandonemos os interesses vitais do Estado de Israel, em especial a segurança dos cidadãos israelenses", completou.

O Departamento de Estado americano rejeitou as críticas do premier. Em Munique, Kerry "se referiu apenas ao boicote como uma das ações que podiam ser tomadas pelos demais, mas à qual se opõe", insistiu seu porta-voz, Jennifer Psaki.

Não é a primeira vez que o secretário recebe críticas dos ministros mais direitistas israelenses.

Em janeiro, o ministro da Defesa Moshé Yaalon acusou Kerry de estar tomado por uma "incompreensível obsessão e uma espécie de messianismo".

Essas declarações geraram tanta tensão com os Estados Unidos que Yaalon teve que pedir desculpas, ainda que sem negar o teor de suas palavras.

A linha dura adotada contra o americano não gera, no entanto, unanimidade dentro do executivo israelense.

O ministro das Finanças Yair Lapid, líder do partido centrista Yesh Atid, pediu nesta segunda que "se baixe o tom em relação aos Estados Unidos".

Para o dirigente, este tipo de ataque pessoal contra Kerry vai "facilitar as acusações contra Israel em caso de fracasso das negociações".

Do lado palestino, também crescem as pressões sobre Israel.

Em uma entrevista concedida nesta segunda ao "New York Times", o presidente Mahmud Abbas propôs que uma força da Otan conduzida pelos Estados Unidos efetue patrulhas no futuro Estado palestino.

Esse dispositivo incluiria tropas posicionadas na Cisjordânia e em todos os postos fronteiriços e em Jerusalém Oriental.

Abbas afirmou também que os soldados e colonos israelenses poderiam ficar na Cisjordânia por um período de cinco anos, até que se chegue a um acordo, e por não três, como havia proposto anteriormente.

O secretário de Estado americano, que retomou as negociações entre Israel e os palestinos em julho de 2013, após três anos de paralisia, tem dificuldades para aproximar a posição dos dois lados, apesar das várias viagens à região.

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