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Heroína, velho terror de Nova York, volta a cena com a morte de Philip

O crescente consumo da cocaína, a partir da década de 80, e o uso relativamente raro da heroína deixaram-na em segundo plano nos anos seguintes

Agência France-Presse
postado em 03/02/2014 19:39
O corpo do ator foi achado  em seu apartamento com uma seringa no braço e vários envelopes que supostamente continham a droga
A heroína, que teve efeitos desastrosos em Nova York nas décadas de 70 e 80, e ajudou a difundir a Aids, voltou ao primeiro plano com a trágica morte do ator Philip Seymour Hoffman, por uma suposta overdose.

O corpo do ator foi achado no domingo, em seu apartamento em Manhattan, com uma seringa no braço, e vários envelopes que supostamente continham a droga, também conhecida como "cavalo", que gera um grande grau de dependência, segundo fontes da polícia.

A necropsia, que seria feita nesta segunda-feira, revelará a verdadeira causa da morte do ator de 46 anos. Mesmo assim, a heroína, um tabu por causa de seus efeitos devastadores, atraiu as atenções.

Hoffman confessou que, quando era jovem, tinha experimentado todo tipo de drogas, e que há um ano teve uma recaída em seu vício. Isso o levou a passar dez dias em uma clínica reabilitação, em maio de 2013.

Segundo a rede de notícias CNN, a Polícia encontrou 50 envelopes de heroína em seu apartamento.

Em Nova York, a "Cidade do Pecado", as drogas estão por toda a parte. Nos anos 60, o recentemente falecido cantor Lou Reed compôs uma música com sua banda, "The Velvet Underground", chamada "Heroína", uma homenagem à droga que o fazia sentir "como o filho de Jesus".

O consumo deste pó branco semissintético, derivado da morfina e produzido a partir do ópio extraído da papoula, expandiu-se na década de 70, quando Nova York registrava 650 mortes por ano ligadas à droga.

Nos anos 80, haviam aproximadamente 200 mil dependentes de heroína na cidade, e 50 mil nos Estados Unidos.



Devido ao uso compartilhado de seringas, os usuários foram particularmente vulneráveis à epidemia de Aids, que também atingiu a cidade na mesma década.

Consumo voltou a crescer nos últimos anos

O crescente consumo da cocaína, a partir da década de 80, e o uso relativamente raro da heroína deixaram-na em segundo plano nos anos seguintes.

No entanto, há algum tempo as autoridades e a imprensa têm alertado paraa retomada do consumo.

Um relatório da Administração para Controle de Drogas (DEA) do ano passado informou que "a disponibilidade da heroína continuou aumentando em 2012" nos Estados Unidos, devido à uma maior produção no México e à uma expansão da atividade dos traficantes nesse país vizinho.

O mesmo estudo acrescenta que é possível observar um crescimento no uso da droga em pessoas cada vez mais jovens, e que o número de usuários "passou de 142.00 em 2010 para 178.000 em 2011".

A apreensão também tem aumentado. A mais recente, na semana passada, levou à incineração de 13 quilos de heroína, com valor de 8 milhões, no Bronx.

Os envelopes usados na distribuição da droga tinham escritos nomes como "NFL" (Liga Nacional de Futebol), "iPhone" e "Paralisação do governo", uma prática comum no submundo da heroína.

Nos envelopes achados na casa de Hoffman, haviam alguns com os nomes "Ás de Espadas" e "Ás de Corações", segundo a polícia, que procura a pessoa que forneceu as drogas ao ator.

Essa informação é importante porque permite conhecer a origem da droga, que muitas vezes é misturada com outras substâncias, em um coquetel que pode ser mortal.

Os nova-iorquinos que têm entre 45 e 54 anos, a mesma faixa etária de Hoffman, registram a taxa mais alta de mortes por heroína, de acordo com o Departamento de Saúde de Nova York.

Ironicamente, o ator interpretou em 2007 um dependente de heroína que mata seu traficante, no filme "Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto", do diretor Sidney Lumet.

Segundo o Instituto Nacional de Abuso de Drogas, mais de 4 milhões de americanos experimentaram a heroína ao menos uma vez na vida. Estima-se que 23% das pessoas que consomem heroína se tornam dependentes.

A ONG Drug Alliance Policy informa que, das 115 mil pessoas nos Estados Unidos que recebem metadona (uma droga que alivia o uso da droga), 40 mil vivem na "Grande Maça".

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