Agência France-Presse
postado em 05/02/2014 17:07
Bangui - Diante de dezenas de testemunhas, soldados centro-africanos lincharam até a morte nesta quarta-feira (5/2) um homem acusado de ser ex-rebelde, ao final de uma cerimônia solene em Bangui, na qual a nova presidente Catherine Samba Panza comemorou a reforma das forças armadas nacionais.O assassinato do homem se deu por meio de chutes, pedradas e facadas e aconteceu nas dependências da Escola Nacional de Magistratura, onde ocorreu a cerimônia que contou com a presença das autoridades do governo de transição e das Forças Armadas, do general Francisco Soriano, comandante da missão militar francesa Sangaris, e do general Atanase Kararuza, comandante-adjunto da Missão da União Africana na República Centro-Africana (Misca). Cerca de 4.000 soldados centro-africanos estavam presentes no evento.
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Foi a primeira vez que as Forças Armadas Centro-Africanas (Faca) estavam reunidas desde a chegada no poder, em março de 2013, do grupo rebelde Seleka - de maioria muçulmana -, cujos membros estão atualmente foragidos após a saída de Michel Djotodia da presidência da república em 10 de janeiro.
Pouco depois da partida da presidente Catherine Samba Panza e demais autoridades, alguns membros da Faca agarraram um jovem homem à paisana, acusando-o de ser um ex-rebelde. Ele foi espancado, esfaqueado, despido de suas roupas e arrastado pelas ruas já morto.
"É um Seleka! Ele está infiltrado", gritavam os soldados, muitos vestidos de uniforme, enquanto esfaqueavam o cadáver do homem. Alguns membros do exército fotografavam a cena com seus telefones celulares.
Corpo desmembrado
O linchamento - rapidamente reforçado por uma multidão de pessoas enfurecidas - ocorreu ante o olhar dos soldados da Força Africana (Misca) encarregados da segurança da cerimônia de alto teor simbólico, e de muitos jornalistas.
Segundo várias testemunhas, o corpo da vítima foi mutilado e queimado e só então a MISCA resolveu intervir dando disparos para o ar a fim de dispersar a multidão, até a chegada de soldados franceses.
Um porta-voz da missão Sangaris, enviada para o país há dois meses, explicou que "as forças francesas não estavam encarregadas da segurança da cerimônia, os únicos soldados franceses que estavam no local faziam parte da equipe do general Francisco Soriano", que já havia deixado o local quando os episódios violentos começaram.
Nos últimos dias, diversas organizações não-governamentais, especialmente a Anistia Internacional e a Human Rights Watch, denunciaram a passividade das forças internacionais face à violência - que vitima particularmente os muçulmanos do país, cuja imagem está associada aos rebeldes.
[SAIBAMAIS]Momentos antes da barbárie, a presidente de transição, Samba Panza, havia falado sobre seu "orgulho de ver tantos membros da Faca reunidos" durante a cerimônia, que tinha por objetivo celebrar a reforma das forças armadas, dispersadas desde o golpe de Estado de março de 2013.
Em seu discurso, Panza garantiu aos militares estar em "negociação" com os parceiros da República Centro-Africana para poder quitar todas as dívidas - que não são pagas há cinco meses - e equipar as Faca "para que elas possam assumir sua missão de proteger Bangui e o território nacional".
Nenhuma reação das autoridades de transição, da MISCA ou da missão Sangaris pode ser obtida imediatamente após o linchamento.