Seul - Coreia do Sul e Coreia do Norte chegaram a um acordo nesta quarta-feira para a retomada das reuniões das famílias separadas pela guerra, um tema sensível que Pyongyang utiliza, segundo os críticos, como moeda de troca na disputa com Seul.
O consentimento marca um raro momento de cooperação entre os dois rivais, especialmente por acontecer semanas antes do Sul iniciar um treinamento militar conjunto com os Estados Unidos, que foi duramente criticado por Pyongyang.
Autoridades dos dois países se reuniram na localidade de fronteira de Panmunjom - onde foi assinado em 1953 o armistício que encerrou as hostilidades - e determinaram o final do mês como a data do primeiro encontro desde 2010 entre famílias separadas, num resort no Norte, informou o Ministério da Unificação de Seul.
"Esperamos que o acordo seja cumprido para diminuir o sofrimento das famílias separadas", informou o ministério.
Os dois países há alguns anos não conseguem encontrar o mínimo denominador comum para cooperar e atenuar as tensões. Analistas observam que a escolha de datas não significa que o evento vai acontecer.
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Outras tentativas anteriores fracassaram, como as negociações de agosto do ano passado entre o Norte e a Cruz Vermelha sul-coreana.
Centenas de pessoas sem notícias de parentes há 60 anos nos dois lados da fronteira deveriam reunir-se no mês seguinte, mas Pyongyang impediu e alegou "hostilidade" por parte de Seul.
Uma mudança de última hora não é descartada, pela irritação da Coreia do Norte com os exercícios militares.
O governo norte-coreano alertou para terríveis consequências se o treinamento for mantido, enquanto Seul e Washington descartaram a possibilidade de um cancelamento.
Esses exercícios militares sempre são fonte de conflitos diplomáticos, e no ano passado levaram a uma tensão mais longa do que o normal.
Yoo Ho-Yeol, professor de estudos norte-coreanos na Universidade de Seul, explicou que o Norte pode usar a reunião como um instrumento de barganha.
"Em vez de cancelar o evento novamente, pode-se tentar extrair concessões, como uma diminuições no treinamento conjunto", alertou.
Oficiais de Defesa dos Estados Unidos já indicaram que, ao contrário de 2013, os exercícios desse ano não vão envolver porta-aviões ou bombardeios.
Sessenta anos com pouco ou nenhum contato
Milhões de coreanos foram separados na Guerra da Coreia (1950-1953), e a maioria morreu sem a chance de um reencontro com os parentes.
Como o conflito terminou com um armistício, e não um tratado de paz, teoricamente os dois países continuam em guerra, e cartas ou ligações entre eles são proibidas.
Cerca de 73 mil sul-coreanos, mais da metade com mais de 80 anos, estão na lista de espera por uma chance em participar das reuniões, que selecionam apenas algumas centenas por vez.
[SAIBAMAIS]O programa de reunião começou em 2000, e desde então quase 17.000 coreanos dos dois países encontraram filhos, irmãos ou pais com os quais haviam perdido contato.
Mas a parceria foi suspensa em 2010, depois de uma disputa envolvendo uma ilha do Sul.
As reuniões geralmente duram vários dias e a alegria do reencontro entra em conflito com a dor da inevitável separação - dessa vez permanente - no final.