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Detentas iraquianas são vítimas de torturas, maus-tratos e abusos sexuais

O relatório baseou a acusação em testemunhos de presas, familiares, advogados, médicos e documentos da justiça

Agência France-Presse
postado em 06/02/2014 10:46
Bagdá - Milhares de mulheres estão detidas ilegalmente nas prisões iraquianas, onde são vítimas de torturas, maus-tratos e abusos sexuais, segundo um relatório da Human Rights Watch publicado nesta quinta-feira (6/2).

Estas acusações, detalhadas em um relatório de 105 páginas, são baseadas em testemunhos de presas, familiares, advogados, médicos carcerários e documentos de justiça, que reforçam a credibilidade das acusações da comunidade sunita, confissão da maioria das reclusas. Os sunitas dizem ser perseguidos injustamente pelo poder, dominado pelos xiitas, e pelas forças de segurança, e protestam regularmente pelo tratamento que as presas recebem, entre outras coisas.



[SAIBAMAIS]Segundo a HRW, algumas afirmaram que foram espancadas, esbofeteadas, submetidas a choques elétricos e estupradas. Outras foram ameaçadas de estupro, às vezes na presença de suas famílias. "As forças de segurança iraquianas agem como se maltratar mulheres tornasse o país mais seguro", lamenta o diretor da HRW para o Oriente Médio e o Norte da África, Joe Stork, em um comunicado. "Estas mulheres e suas famílias nos disseram que enquanto as forças de segurança seguem maltratando as pessoas com toda impunidade só se pode esperar um agravamento das condições de segurança", acrescenta.

Segundo a ONG americana, das 27 mulheres que foram entrevistas, uma caminhava com ajuda de muletas depois de ter sido espancada e submetida a descargas elétricas durante nove dias, afirmou. A mulher foi executada posteriormente, apesar de um relatório médico que confirmava as acusações de tortura. A HRW também ressalta que as mulheres são detidas com frequência para ser interrogadas sobre familiares ou para pressionar os homens da comunidade, mais que por crimes que poderiam ter cometido.

O Iraque não se importa com as acusações de tortura e maus-tratos, afirma a ONG, e indica que nenhum caso denunciado ante os juízes levou a uma investigação. As forças de segurança recebem cada vez mais críticas, enquanto a violência no país alcança níveis comparáveis a 2008, quando o Iraque saía de um conflito sectário sangrento, após a invasão americana do país em 2003. Em janeiro, mais de mil pessoas morreram em ataques.

ONGs, analistas e diplomatas recolhem cada vez mais denúncias de maus-tratos, incluindo detenções em massa ou prolongações de detenções sem processo. A ira da comunidade sunita torna mais instável a situação, já que, segundo os especialistas, os impede de cooperar com as autoridades para acabar com os crimes de grupos jihadistas presentes no Iraque. "Estes abusos geraram uma raiva muito profunda, e uma desconfiança entre as diferentes comunidades e as forças de ordem. Todos os iraquianos estão pagando", completou Stork.

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