Agência France-Presse
postado em 06/02/2014 11:11
Bangui - O general Babacar Gaye, representante especial das Nações Unidas na República Centro-africana, pediu nesta quinta-feira (6/2) às autoridades do país que imponham sanções exemplares devido ao linchamento em público de um homem nas mãos de militares. "Os incidentes ocorridos são reveladores e inadmissíveis e devem ser alvo de uma investigação e de sanções exemplares", declarou o general Gaye.[SAIBAMAIS]"É preciso uma grande mudança para evitar a violência cega, a violência inútil a que assistimos e que se traduz por um rompimento do tecido social, com uma perda de referências sem precedentes neste país", afirmou ainda. Diante de dezenas de testemunhas, soldados centro-africanos lincharam até a morte na quarta-feira um homem acusado de ser ex-rebelde, ao final de uma cerimônia solene em Bangui, na qual a nova presidente Catherine Samba Panza comemorou a reforma das forças armadas nacionais.
O assassinato do homem se deu por meio de chutes, pedradas e facadas e aconteceu nas dependências da Escola Nacional de Magistratura, onde ocorreu a cerimônia que contou com a presença das autoridades do governo de transição e das Forças Armadas, do general Francisco Soriano, comandante da missão militar francesa Sangaris, e do general Atanase Kararuza, comandante-adjunto da Missão da União Africana na República Centro-Africana (Misca). Cerca de 4 mil soldados centro-africanos estavam presentes no evento.
Foi a primeira vez que as Forças Armadas Centro-Africanas (Faca) estavam reunidas desde a chegada no poder, em março de 2013, do grupo rebelde Seleka - de maioria muçulmana -, cujos membros estão atualmente foragidos após a saída de Michel Djotodia da presidência da república em 10 de janeiro. Pouco depois da partida da presidente Catherine Samba Panza e demais autoridades, alguns membros da Faca agarraram um jovem homem à paisana, acusando-o de ser um ex-rebelde. Ele foi espancado, esfaqueado, despido de suas roupas e arrastado pelas ruas já morto.
O linchamento - rapidamente reforçado por uma multidão de pessoas enfurecidas - ocorreu ante o olhar dos soldados da Força Africana (Misca) encarregados da segurança da cerimônia de alto teor simbólico, e de muitos jornalistas. Segundo várias testemunhas, o corpo da vítima foi mutilado e queimado e só então a MISCA resolveu intervir dando disparos para o ar a fim de dispersar a multidão, até a chegada de soldados franceses.
Questionado pela AFP, um porta-voz da missão Sangaris, enviada para o país há dois meses, explicou que "as forças francesas não estavam encarregadas da segurança da cerimônia, os únicos soldados franceses que estavam no local faziam parte da equipe do general Francisco Soriano", que já havia deixado o local quando os episódios violentos começaram.