Agência France-Presse
postado em 06/02/2014 17:14
As autoridades sírias e a ONU concluíram um acordo para a saída "iminente" de civis da cidade sitiada de Homs, cercados pelo Exército há mais de 600 dias, assim como para a entrada de uma ajuda humanitária vital aos habitantes.O conflito na Síria, próximo de completar quatro anos, já deixou mais de 136 mil mortos, e não há sinais de uma trégua ou saída para a crise, apesar das negociações entre regime e oposição, que devem ser retomadas em 10 de fevereiro em Genebra.
Após várias tentativas, os rebeldes sírios tomaram nesta quinta-feira o controle de grande parte da prisão central de Aleppo e libertaram centenas de detidos, segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH). Essa informação foi desmentido pela imprensa estatal.
Enquanto isso, em Aleppo, o regime mantém seus ataques com barris de explosivos, matando quase 250 pessoas em cinco dias.
Considerada "capital da revolução" contra o regime de Bashar al-Assad, a cidade de Homs deve começar a sentir os benefícios de um acordo entre o governador Talal Barazi e o coordenador da ONU Yaacoub Helou, que "garante a saída iminente dos civis inocentes da cidade velha (...) e a entrada de ajuda humanitária para aqueles que decidirem ficar", indicou a agência oficial Sana.
No fim da tarde, a ONU confirmou o acordo humanitário. De acordo com o porta-voz adjunto da organização, Farhan Haq, o texto assinado "possibilitará o fornecimento de ajuda vital a cerca de 2.500 civis" bloqueados pelos combates.
A chefe de Operações Humanitárias da ONU, Valerie Amos, comemorou a notícia, segundo seu porta-voz, que indicou que ela "continuará acompanhando os acontecimentos" no terreno.
Se este acordo entrar em vigor, será o primeiro gesto humanitário do regime desde o fim da primeira rodada de negociações, no final de janeiro em Genebra, mediado pelo representante internacional Lakhdar Brahimi.
Na ocasião, Lakhdar Brahimi obteve do regime a promessa de deixar que mulheres e crianças, perseguidos há meses no centro de Homs, abandonem a cidade.
Mas, desde então, os dois lados em confronto têm se acusado mutuamente de bloquear o processo.
Abu Ziad, um ativista de Homs, declarou à AFP via internet que "muitas famílias querem deixar" Homs, a terceira maior cidade da Síria que vem pagando um alto preço por sua oposição ao regime do presidente Bashar al-Assad.
250 mortos por barris de explosivos
Os bairros controlados pelos rebeldes são sitiados desde junho de 2012 pelo Exército, que os bombardeia regularmente. Milhares de sírios vivem em condições deploráveis.
De acordo com o OSDH, cerca de 3.000 pessoas estão presas em Homs, onde os alimentos e suprimentos médicos são escassos e cada dia é um teste de sobrevivência.
Mais ao norte, em Aleppo, membros da coalizão Frente Islâmica, liderada pela brigada Ahrar al-Sham e pela Frente Al-Nosra, assumiram o controle de 80% da prisão de Aleppo e libertaram centenas de prisioneiros", segundo informou o diretor da organização, Rami Abdel Rahman.
Rahman indicou, no entanto, que combates ainda eram travados no complexo, que supostamente abriga cerca de 3.000 presos, incluindo ativistas islâmicos e menores de idade.
Ainda em Aleppo, a aviação síria continua a despejar barris de explosivos contra bairros rebeldes. Desde sábado, 246 pessoas morreram, incluindo 73 crianças.
Indecisão para Genebra
Enquanto o Exército sírio, apoiado pelo movimento libanês Hezbollah, conseguiu recuperar o controle de alguns redutos rebeldes, principalmente a leste de Aleppo, a Frente Islâmica e a Al-Nosra pediram que "todos os combatentes rebeldes se mobilizem" e pediram aos moradores das "áreas ocupadas" pela regime que se afastem das bases e postos de controle do governo, que serão alvos de futuros ataques.
O regime controla o litoral oeste do país e a capital Damasco, apesar dos combates em sua periferia, e tem avançado no leste, em grande parte ocupado por rebeldes.
Além da região leste, os rebeldes controlam o norte, mas precisam combater os jihadistas do Estado Islâmico no Iraque e do Levante (EIIL), a quem acusam de abusos.
O secretário de Estado americano, John Kerry, reconheceu que o regime marcou pontos, mas que "ainda não pode vencer." "Está em um beco sem saída", acrescentou.
Entrevistada pela televisão síria, a conselheira de Assad, Bouthaina Shaaban, disse que a decisão de participar das próximas negociações pela paz na Síria, em Genebra, "ainda não foi tomada pelo presidente".