Agência France-Presse
postado em 06/02/2014 19:00
O pequeno povoado britânico de Muchelney - "ilha grande" em saxão - ficou isolado devido às inundações que a Inglaterra sofreu, e seus vizinhos se somam à indignação causada pela gestão da ajuda.
O povoado fica no coração de Somerset Levels, uma planície pantanosa do oeste da Inglaterra, com 11.500 hectares sob as águas desde janeiro, que se tornou o mês mais chuvoso no Reino Unido desde 1910. De repente, os 150 habitantes do povoado se tornaram náufragos.
Outros povoados estão em situação semelhante, entrincheirados com sacos de areia na esperança de deter as inundações.
Só no fim de semana passado, 180 casas ficaram submersas nessa região e o Exército está pronto para intervir tendo em vista as novas chuvas aguardadas para esta semana.
Diante de uma situação que só faz piorar, o governo enfrenta a ira crescente dos afetados, que o acusam de não mobilizar todos os recursos.
Em visita à região, o ministro do Meio Ambiente, Owen Patterson, teve uma recepção fria. O príncipe Charles visitou as áreas afetadas na terça-feira para manifestar a solidariedade real.
Apesar de os moradores de Muchelney estarem acostumados às inundações, "este ano estão sendo excepcionalmente longas", constatou a professora aposentada Catherine Denny.
O povoado, situado em uma pequena colina, está isolado pelas águas desde 3 de janeiro.
Todas as vias de acesso estão cobertas, às vezes por dois metros d;água, e a única forma de chegar ao povoado é de barca.
Pilotada por policiais ou socorristas, a barca segue o caminho de uma pequena estrada. No meio do percurso, aparece o teto de um carro cinza abandonado nas águas pelo proprietário.
Tudo se complicou: ir ao trabalho, levar as crianças à escola - com coletes salva-vidas -, ou ir ao supermercado.
"Nós nos organizamos", disse Catherine Denny, que prefere guardar na memória os momentos de solidariedade entre vizinhos e a festa que fizeram na igreja, na qual cada um levou o que pôde.
"As pessoas dizem que é preciso fazer algo, mas francamente, não sei o que. Aí está o rio e tudo ao redor (da colina) é planície. Se você não aceita, não deve se instalar aqui", sentenciou.
É isso que sugere o governo, que se questiona se é necessário proteger todas estas terras inundáveis e pouco habitadas, onde as pessoas vivem plenamente conscientes de sua vulnerabilidade.
"Temos que tomar decisões difíceis e delicadas sobre o que tentamos proteger e onde", escreveu em um artigo no Daily Telegraph Chris Smith, encarregado da Agência de Meio Ambiente, perguntando se os contribuintes estão dispostos a pagar para construir diques em todos os cantos do país.
"Construir diques custa caro", lembrou Smith. O primeiro-ministro (britânico) David Cameron prometeu quatro milhões de libras para dragar o leito dos rios, mas para a maioria dos especialistas, isto não servirá de nada.
"Ir contra a natureza não leva a nada, além do fracasso. A única solução sensata é partir", afirmou Colin Thorne, professor de geografia física na universidade de Nottingham, citado pelo Daily Telegraph.
Os ambientalistas pensam da mesma forma e sonham em transformar a região em reserva natural de restingas.
Para Robin Bord, farto de ver como seus campos apodrecem em Muchelney, essas ideias são repulsivas. "Nasci aqui, sempre houve inundações, mas não tantas. Por quê? Porque os rios não foram dragados em 20 anos. Ao invés disso, preferimos gastar 20 milhões de libras em um santuário de pássaros. O governo prefere os pássaros às pessoas", lamentou.