A institucionalização da homofobia promovida pelo Kremlin preocupa as Nações Unidas e a Human Rights Watch (HRW), que denunciam uma violação dos direitos humanos. Na véspera da abertura dos Jogos Olímpicos de Inverno, no balneário russo de Sochi, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, visitou o local e teceu fortes críticas à perseguição sofrida por homossexuais. Foi um recado velado, mas claramente direcionado ao presidente russo, Vladimir Putin. ;Muitos atletas profissionais, gays e heterossexuais, se manifestam contra o preconceito. Nós todos devemos levantar nossas vozes contra ataques a gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros ou intersexuais;, declarou Ban, ontem, durante evento do Comitê Olímpico Internacional (COI), em Sochi. ;Devemos nos opor às prisões, às detenções e às restrições discriminatórias que eles enfrentam;, acrescentou. De acordo com o sul-coreano, ;o ódio de qualquer tipo não deve ter lugar no século 21;.
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O apelo recebeu o reforço de mais de 200 escritores de 30 países, incluindo laureados com o Nobel de Literatura, que redigiram um manifesto no qual condenam a proibição de propagandas homossexuais em território russo. ;Durante os últimos 18 meses, os legisladores russos aprovaram uma série de leis que estrangulam o direito de expressar-se livremente na Rússia. Como escritores e artistas, não podemos permanecer em silêncio enquanto vemos nossos colegas escritores e jornalistas pressionados ao silêncio ou correndo risco de serem processados (;) pelo mero ato de comunicarem seus pensamentos;, afirma o texto, assinado também por Gunter Grass, Orhan Pamuk e Salman Rushdie.
O jornalista Anton Krasovsky, 37 anos, foi um dos primeiros a sentir os efeitos da chamada legislação antigay na Rússia. ;Sofri preconceito depois que admiti publicamente ser gay. Ainda estou sem trabalho e sem perspectivas;, afirmou ao Correio o ex-âncora afastado da KontrTV, uma emissora afiliada ao governo russo, em agosto do ano passado. Especialistas atribuem o fenômeno, respaldado pelo establishment, a uma tentativa de Putin de impedir a ;contaminação; de valores ocidentais e de se firmar no poder. Na Rússia, a propaganda sobre homossexualidade é crime passível de multa de US$ 150.
Vídeos
;A situação é imprevisível. Temos visto ataques e perseguições, por parte de grupos vigilantes e por indivíduos, contra gays. E o governo tem feito virtualmente nada para evitar essas ações;, lamentou Tanya Cooper, pesquisadora sobre Rússia da HRW. A organização divulgou, anteontem, vídeos sobre agressões sofridas por homossexuais russos. Nas imagens, militantes do grupo Occupy Pedophilia entregam um buquê de flores a um jovem, enquanto raspam seu cabelo e o cobrem com tinta. Outras imagens mostram um homem forçado a declarar-se gay, antes de ser espancado e obrigado a introduzir no ânus uma garrafa de vidro. ;Os nacionalistas radicais utilizam a legislação e a proteção das crianças para atacar os homossexuais;, afirmou Cooper, por telefone, de Moscou.
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